Por que é tão difícil sentir-se confiante na era da comparação digital?

Artigo | Autoestima

Parece haver um sussurro constante em todos os cantos da nossa vida digital e real, um sussurro que se tornou um grito: a obsessão por ser confiante. Inúmeras vozes tentam nos ensinar a fórmula mágica da autoconfiança, mas por que essa busca se tornou tão frenética? O que é, afinal, a verdadeira confiança e quão longe estamos dela?

Se fecharmos os olhos e imaginarmos alguém "confiante", a imagem que surge é muitas vezes previsível: uma pessoa de aparência impecável, talvez com um certo poder financeiro e uma personalidade magnética e extrovertida. Essa imagem, no entanto, não nasce do nada. Ela é cuidadosamente moldada pelo fluxo interminável de consumismo que nos é apresentado como ideal, especialmente nas redes sociais. Lá, vidas de sucesso são exibidas através de objetos caros e experiências exclusivas, e nós acabamos por desejar e esperar o mesmo de nós. Quando nossa realidade não corresponde a essa vitrine, a vergonha se instala.

O que muitos de nós perseguimos não é a confiança em sua essência, mas uma performance dela, vestida com o traje de um estilo de vida extravagante. A verdade, porém, é que a confiança genuína não brota do que vestimos ou possuímos, mas da segurança profunda de quem somos e da fé em nossas próprias habilidades.

As Raízes da Nossa (In)Segurança

Por que a confiança parece um recurso tão escasso hoje em dia? As origens da nossa autoavaliação são plantadas na infância. É nesse terreno fértil que a autoconfiança e a autoestima florescem ou murcham. Um estudo publicado no Elementary School Journal destacou como as crianças constroem essa base através de experiências bem-sucedidas. A consciência de que podemos ter sucesso nos faz sentir mais capazes, mas a forma como esse sucesso é medido e reconhecido é um obstáculo em si.

É um equilíbrio delicado. Elogios em excesso podem nos tornar arrogantes, com egos frágeis e despreparados para a crítica. Por outro lado, a falta de reconhecimento pode nos deixar com a sensação crônica de não sermos bons o suficiente. Nossos pais e cuidadores são nossos primeiros espelhos, e dependemos de seu reflexo para entender se estamos no caminho certo. Essa influência nos acompanha até a adolescência, período em que a busca pela identidade se intensifica.

O Ladrão da Alegria na Era Digital

As redes sociais desempenham, sem dúvida, um papel crucial na forma como nos enxergamos, mas seu impacto depende de como nos engajamos com elas. Se o nosso uso se limita a conteúdos leves e desconectados de padrões de vida, a pressão para se conformar a ideais inatingíveis tende a ser menor.

Contudo, a dificuldade em construir uma confiança sólida hoje em dia reside na sensação de estarmos em uma competição constante e invisível. Você pode sentir um orgulho imenso por um trabalho que realizou, por um desenho que fez, mas basta um deslize do dedo pela tela para descobrir alguém mais jovem ou com mais talento aparente. Nesse instante, sua confiança pode ser abalada.

Isso se aplica a qualquer pilar que usamos para nos definir. Seja você um bom escritor, um frequentador dedicado da academia ou alguém com um senso estético apurado, a mesma fonte de sua confiança se torna também seu ponto de vulnerabilidade. É por isso que, para as gerações que cresceram conectadas à internet, a confiança é um terreno particularmente movediço. Há sempre alguém "melhor" a apenas um clique de distância, validando o velho ditado: "a comparação é a ladra da alegria" — e, neste caso, da confiança.

Redefinindo a Verdadeira Confiança

Somos obcecados pela confiança porque parece que todos a possuem ou a merecem, menos nós. Mas o que a confiança real mudaria em sua vida? Existe uma diferença abissal entre a representação da confiança e sua vivência autêntica. Muitas vezes, confundimos atitudes confiantes com indiferença, apatia ou até mesmo arrogância. Ao tentar "agir com confiança" da maneira que a sociedade espera, corremos o risco de nos roubarmos da experiência genuína.

A verdadeira confiança é específica para cada um. Talvez, para você, ela signifique sentir-se seguro em sua área de trabalho. Ou, quem sabe, desfrutar de seus hobbies sem a preocupação paralisante do julgamento alheio. Pode ser, simplesmente, ter um forte senso de autoestima que o protege da síndrome do impostor ou da sensação de não ser digno de amizades e relacionamentos.

Esse tipo de confiança, a que vem de dentro, aumenta a motivação e a resiliência. Considerando isso, a obsessão cultural pela confiança é um fenômeno estimulado pela superficialidade das aparências. Se você deseja ser mais confiante, seus objetivos devem ser pessoais, não genéricos. As coisas que você aspira e as maneiras pelas quais busca se tornar uma pessoa melhor são únicas e intransferíveis, ou você as persegue simplesmente para parecer confiante?

Não existem regras fixas. A confiança é um estado de ser, não algo que se adquire ao preencher uma lista de requisitos. Embora possa ser afetada por fatores externos e pela interação com os outros, em última análise, é um processo interno. Nossa fixação nela vem do valor imenso que lhe atribuímos e de como ela parece impossível de alcançar. Todos nós queremos sentir que somos bons no que fazemos, felizes com quem somos e livres da opinião alheia.

Pensamos na confiança como uma recompensa, mas cada pessoa tem sua própria relação com ela. Não permita que outros ditem o que deveria fazer você se sentir confiante. Descubra por si mesmo. Aceite e compreenda qual é a sua relação particular com a confiança.

Referências para aprofundamento

  • Brown, B. (2013). A coragem de ser imperfeito: Como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Editora Sextante.

    Anotação: Brené Brown argumenta que a verdadeira confiança e a conexão humana não vêm da perfeição, mas da vulnerabilidade. Este livro explora como a coragem de se mostrar imperfeito é o caminho para uma vida mais autêntica e confiante, combatendo diretamente a ideia de "performance" discutida no artigo.

  • Bandura, A. (1997). Self-Efficacy: The Exercise of Control. W.H. Freeman.

    Anotação: Esta obra é fundamental para entender a teoria da autoeficácia, que é a crença de uma pessoa em sua própria capacidade de realizar tarefas e alcançar metas. Bandura explica como essa crença é construída através de experiências de sucesso, observação de outros, persuasão social e estados emocionais — temas diretamente relacionados às origens da confiança na infância e ao impacto da comparação social. As páginas iniciais do Capítulo 1 (pp. 1-46) oferecem uma excelente introdução ao conceito.