Por que a ideia de "amor incondicional" pode ser perigosa para seus relacionamentos?

Há uma beleza inegável na ideia do amor incondicional. Em uma perspectiva mais espiritualizada, podemos compreendê-lo como uma força pura, um atributo do divino que flui através de nós. Nessa visão, o amor que expressamos seria, em sua essência, perfeito e isento de condições. É um pensamento reconfortante e, dentro dessa lógica, perfeitamente razoável.

Contudo, é no terreno da vida real que essa nobre ideia é posta à prova. E é aqui que precisamos fazer uma distinção fundamental.

Amor e Relacionamento: Uma Distinção Necessária

Mesmo que aceitemos a premissa de que o amor, como sentimento puro, pode ser incondicional, os relacionamentos, por sua natureza, não são. E mais: é saudável que não sejam. Um relacionamento é uma via de mão dupla, um acordo tácito ou explícito de respeito, cuidado e reciprocidade.

A história nos ensina que a ausência de responsabilidade tende a corromper. Instituições que operaram por séculos imunes às consequências de seus atos, sejam elas monarquias ou monopólios, frequentemente deram origem a grandes abusos. O ser humano, quando protegido de qualquer resultado negativo de suas ações, pode ser tentado a agir de formas sombrias. Por que seria diferente em uma escala pessoal?

A condicionalidade em um relacionamento não enfraquece o amor; ela protege as pessoas envolvidas. As condições são as fronteiras do respeito e da dignidade.

Quando o Amor Precisa de Limites

Pensemos em cenários dolorosamente comuns. Seria sensato aconselhar uma pessoa a permanecer ao lado de um companheiro que a agride diariamente? Ou a suportar uma parceira que a humilha constantemente, minando sua autoestima a portas fechadas? É difícil defender que o amor exige tal sacrifício.

O compromisso é um pilar essencial, e talvez em nossa sociedade moderna estejamos desistindo dele com muita facilidade. No entanto, precisam existir razões para o fim, para a separação. Se não existissem, muitos relacionamentos se tornariam prisões emocionais e físicas. Nesses casos, a solução pode ser amar à distância, preservando o afeto que talvez ainda exista, mas, acima de tudo, protegendo a própria integridade.

O Risco do "Amor Injustificado"

A psicóloga Marsha Linehan, criadora da Terapia Comportamental Dialética, introduziu um conceito poderoso: o de que o amor pode ser "injustificado". Ela argumentava que podemos manter sentimentos positivos por indivíduos de uma forma que não é apropriada às circunstâncias.

Se alguém nos traiu, nos abandonou ou foi abusivo, o amor que ainda sentimos por essa pessoa pode ser, segundo Linehan, uma emoção que precisa ser reavaliada. Ela nos aconselha a alinhar nossos sentimentos com a realidade dos fatos. Compreender este princípio é libertador. Sem ele, muitas pessoas permanecem presas em dinâmicas destrutivas, acorrentadas por uma crença mal interpretada sobre a incondicionalidade do amor.

Em última análise, o desafio é encontrar um equilíbrio. Precisamos da resiliência para não descartar compromissos valiosos ao primeiro sinal de dificuldade, mas também da sabedoria e da coragem para reconhecer quando um relacionamento se tornou prejudicial. Dissolver laços abusivos e desrespeitosos não é um fracasso do amor, mas sim um ato de amor-próprio e de profundo respeito pela dignidade humana.

Referências

  • Linehan, M. M. (2018). Manual de Treinamento de Habilidades em DBT (2ª ed.). Artmed.

    Este livro é a base da Terapia Comportamental Dialética. As seções sobre "Regulação Emocional" e "Tolerância ao Mal-Estar" fornecem ferramentas práticas que fundamentam a ideia de analisar se uma emoção (como o amor) é justificada pela situação e como agir quando ela não é, ajudando a alinhar os sentimentos à realidade.

  • Fromm, E. (2018). A Arte de Amar. Editora Planeta.

    Nesta obra clássica, Erich Fromm desafia a noção de que o amor é apenas um sentimento passivo. Ele o apresenta como uma arte que exige prática, disciplina e conhecimento. Fromm detalha quatro elementos essenciais ao amor ativo: cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento. A ausência desses elementos em um relacionamento, segundo sua tese, impede a prática da arte de amar, o que apoia a ideia de que relacionamentos saudáveis dependem de condições mútuas. (Ver especialmente o Capítulo 2: "A Teoria do Amor").

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