Por que punimos as pessoas que mais amamos?

Existe um padrão curioso e muitas vezes destrutivo nos relacionamentos: a tendência de tratar com mais rigor precisamente a pessoa por quem sentimos a maior atração. Pode parecer contraditório, mas quanto mais alguém nos cativa e mais investimos emocionalmente, maior a probabilidade de essa pessoa se tornar o alvo das nossas emoções negativas. Esta reflexão é um convite para explorar esse paradoxo, um remédio por vezes amargo, mas com o poder de transformar significativamente a forma como construímos as nossas ligações.

O Teste dos Dois Homens

Para ilustrar este mecanismo, consideremos um breve exercício mental. Imagine duas figuras masculinas na sua vida. O primeiro, vamos chamá-lo de André. Ele é uma pessoa decente, alguém com quem você pode se divertir ocasionalmente, mas não há um envolvimento emocional profundo. Você poderia deixá-lo ir sem grande sofrimento. O segundo, Lucas, é diferente. Você realmente gosta dele. Ele possui as qualidades que você admira, ele a faz rir, trata-a bem e parece ter um potencial real para algo sério. Quanto mais você pensa nele, mais projeta um futuro e mais emocionalmente envolvida se torna.

Agora, reflita:

  • Com qual dos dois você ficaria irritada se ele não respondesse a uma mensagem imediatamente?
  • De qual deles você sentiria ciúmes se ele passasse tempo com outras mulheres?
  • Qual dos dois você pressionaria se ele não demonstrasse o entusiasmo que você espera ou não agisse exatamente como você deseja?

A resposta, invariavelmente, aponta para Lucas. O homem que conseguiu despertar suas emoções mais profundas torna-se, paradoxalmente, o principal receptor da sua impaciência, insegurança e frustração.

A Consequência Inesperada da Atração

Este é o cerne do problema. Se Lucas sente que não está a receber a mesma tolerância e espaço que você concederia a André — o homem por quem você não tem sentimentos fortes —, ele perceberá uma inconsistência. Se ele tiver outras opções e um pingo de autoestima, não permanecerá num ambiente onde o afeto que ele inspira é recompensado com punição. É assim que a sua própria atração, quando mal gerida, pode acabar por afastar os bons homens da sua vida.

Não se trata de tolerar maus comportamentos. Trata-se de reconhecer que as nossas emoções não devem redefinir o que é um mau comportamento.

Emoção vs. Acordo: Redefinindo o "Errado"

O que é bom ou mau, certo ou errado, dentro de um relacionamento, deveria ser determinado por acordos explicitamente negociados ou por uma moralidade partilhada que ambas as partes aceitam voluntariamente. Não deveria ser ditado pela intensidade dos seus sentimentos. O valor de uma ação não muda com base em quem a pratica. Um assassinato não é menos crime se a vítima não era querida por ninguém, nem mais grave se era amada por todos. A natureza do ato permanece a mesma.

Da mesma forma, uma ação de um parceiro não se torna inerentemente "errada" apenas porque você está mais investida emocionalmente.

Um Teste de Clareza Emocional

Para ajudar a determinar se a sua reação negativa é justificada, aplique um teste simples. Quando o homem de quem você gosta fizer algo que a incomoda, pergunte a si mesma:

"Se o André, o homem por quem não tenho grande interesse, fizesse exatamente a mesma coisa, eu ficaria igualmente chateada ou irritada?"

Se a resposta for "não", então é provável que a sua reação seja impulsionada pelas suas emoções e não por uma falha objetiva da parte dele.

Se você não se importaria que André demorasse algumas horas ou dias para responder, não deveria criar um conflito se Lucas o fizer (na ausência de um acordo explícito sobre comunicação). Se você não se importaria que André saísse com outras mulheres, não transforme isso num problema com Lucas (assumindo que não há um compromisso de exclusividade). Quando o faz, é a sua emoção a falar, e é sua a responsabilidade de a gerir.

Ao punir um homem como consequência direta da atração que sente por ele, você está, na verdade, a desmotivá-lo de ser a pessoa atraente que a conquistou em primeiro lugar. É um ciclo vicioso que só a autoconsciência pode quebrar.

Referências para Aprofundamento

  • Levine, A., & Heller, R. S. F. (2010). Attached: The New Science of Adult Attachment and How It Can Help You Find—and Keep—Love. TarcherPerigee.

    Este livro explora como os estilos de apego (ansioso, evitante e seguro) moldam os nossos comportamentos nos relacionamentos. A tendência de "punir" um parceiro por quem se tem fortes sentimentos é frequentemente um "comportamento de protesto" típico do estilo de apego ansioso, uma tentativa de restabelecer a conexão e a segurança, que paradoxalmente pode afastar o parceiro. A obra oferece uma base para entender por que reagimos de certas maneiras quando as nossas necessidades de apego são ativadas.

  • Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ. Bantam Books.

    A tese central do artigo baseia-se nos pilares da inteligência emocional, nomeadamente a autoconsciência e a autogestão. Goleman explica que a capacidade de reconhecer as próprias emoções (autoconsciência) e de as gerir de forma saudável (autogestão) é crucial para relacionamentos bem-sucedidos. O livro fundamenta a ideia de que não devemos ser reféns das nossas reações emocionais, mas sim aprender a compreendê-las e a responder de forma construtiva. (Ver Parte II: "The Nature of Emotional Intelligence").

  • Burns, D. D. (1980). Feeling Good: The New Mood Therapy. William Morrow.

    Este trabalho clássico da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) demonstra como os nossos pensamentos criam os nossos sentimentos. A reação exagerada a uma ação de um parceiro desejado é muitas vezes alimentada por distorções cognitivas, como "leitura mental" ("ele não respondeu, logo não se importa") ou "catastrofização". O teste proposto no artigo ("o que faria se fosse outra pessoa?") é uma técnica de TCC para desafiar estes pensamentos distorcidos e avaliar a situação de forma mais objetiva. (Ver Capítulo 3: "Understanding Your Moods: You Feel the Way You Think").

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