Por que ser um "bom rapaz" não é suficiente para a atrair?
Existe uma conversa que se desenrola de forma consistente, quase como um roteiro familiar, sempre que um homem pergunta o que uma mulher procura num parceiro. As respostas, invariavelmente, pintam o retrato de um ideal: “Quero alguém gentil, que me faça sentir segura, que me apoie emocionalmente, que seja honesto, leal e queira construir uma família.”
À primeira vista, estas qualidades são mais do que razoáveis; são a base de qualquer relacionamento saudável e maduro. No entanto, há uma dissonância desconcertante que muitos homens sentem. Eles ouvem esta lista, reconhecem essas mesmas qualidades em si mesmos — a lealdade, o carinho, a honestidade — e perguntam-se, com uma sinceridade frustrada: “Então, por que не sou eu o que elas procuram?” Estes homens, muitas vezes, não são de facto os escolhidos, precisamente porque são eles que ainda se encontram a fazer a pergunta. Onde reside, então, o mal-entendido?
A Peça que Falta no Quebra-Cabeça
A confusão surge porque uma parte crucial da equação é quase sempre omitida. Não por malícia, mas talvez por ser tão fundamental que é assumida como implícita, ou talvez por ser socialmente delicado articulá-la. A verdade é esta: as mulheres desejam todas essas nobres qualidades, mas desejam-nas de homens pelos quais já se sentem atraídas.
Esta pequena inclusão muda tudo. A atração não é uma consequência dessas qualidades; é um pré-requisito. As mulheres não estão a listar os fatores que as fazem sentir-se atraídas em primeiro lugar. Elas estão a descrever os critérios de seleção que usam para escolher um parceiro a longo prazo dentro do grupo de homens que já consideram atraentes. A atração abre a porta. As qualidades admiráveis são o que as convence a ficar.
As Duas Implicações Fundamentais
Compreender esta dinâmica leva a duas conclusões de profunda importância.
Primeiro, fica claro que a atração feminina, na sua essência, não é acionada pela lista de virtudes que elas explicitamente mencionam. A atração acontece primeiro, muitas vezes antes mesmo de uma mulher saber se um homem é emocionalmente solidário ou se deseja uma família. A prova lógica é simples: quase todas as mulheres já se envolveram com pelo menos um homem que não era particularmente gentil, leal ou confiável. A decisão de se envolver com ele foi impulsionada pela atração, um sentimento que, por definição, não poderia ter sido baseado em qualidades que estavam visivelmente ausentes.
Segundo, e esta é a consequência mais capacitadora para os homens, o objetivo principal deve ser o de se tornar um homem genuinamente atraente. É assim que se entra no jogo. É o passo inicial e indispensável. A confusão e a frustração podem dar lugar a um caminho claro de ação, focado no autodesenvolvimento.
Construindo a Atração: Um Caminho de Autodesenvolvimento
A boa notícia é que os pilares da atração masculina não são traços inatos ou dons místicos. São, na sua esmagadora maioria, competências e características que podem ser aprendidas, cultivadas e desenvolvidas. São elas:
- Estar em boa forma física: Cuidar do corpo demonstra disciplina e respeito próprio.
- Saber vestir-se: A aparência é a primeira forma de comunicação não-verbal.
- Aprender a arte da conversa: Ser capaz de conversar de forma charmosa e envolvente é uma habilidade poderosa.
- Ter uma missão de vida: Um homem com um propósito claro irradia confiança e direção.
- Alcançar o sucesso (nos seus próprios termos): A competência e a ambição são universalmente atraentes.
- Aprender as nuances da paquera: Entender como criar tensão e interesse de forma leve e respeitosa.
Estas não são apenas técnicas para agradar aos outros. São, fundamentalmente, habilidades que o beneficiam diretamente, melhorando a sua qualidade de vida, a sua confiança e o seu bem-estar. O benefício indireto é que, ao tornar-se uma versão melhor de si mesmo, torna-se naturalmente mais atraente.
Então, o que o impede? O entendimento desta peça que faltava não deve ser uma fonte de desânimo, mas sim um mapa. Ele substitui a confusão por clareza e a passividade por um chamado à ação.
Referências
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Buss, D. M. (2016). The Evolution of Desire: Strategies of Human Mating. (Revised and updated edition). Basic Books.
Este trabalho seminal de David Buss explora as estratégias de acasalamento de homens e mulheres a partir de uma perspetiva evolutiva. O livro distingue claramente entre os sinais que despoletam a atração inicial (muitas vezes ligados à saúde, estatuto e genes) e as qualidades procuradas para uma parceria a longo prazo (como bondade, fiabilidade e recursos). Confirma a tese central do artigo de que a atração precede a avaliação de traços de caráter para um relacionamento estável. (Ver especialmente os capítulos sobre "O que as mulheres querem"). -
Miller, G. (2000). The Mating Mind: How Sexual Choice Shaped the Evolution of Human Nature. Doubleday.
Geoffrey Miller argumenta que muitas das capacidades humanas mais distintas, como a criatividade, o humor, a arte e a linguagem, evoluíram não apenas para a sobrevivência, mas como "indicadores de aptidão" para atrair parceiros. Este livro apoia a ideia de que "habilidades que se podem aprender", como a conversa encantadora e a demonstração de competência (sucesso), são centrais para a atração, pois sinalizam uma mente saudável e bons genes ao sexo oposto.