Como a não-ação (wu wei) pode levar à realização sem esforço?

Imagine um sábio que não anda, mas flutua, cavalgando o vento com uma indiferença admirável pelas preocupações que nos afligem. Este é Lieh Tzu, uma figura central no taoísmo, cuja leveza era fruto de uma profunda liberdade: a libertação dos desejos que nos prometem felicidade, mas que, na verdade, nos acorrentam. O antigo texto que leva seu nome, o Lieh Tzu, é um tesouro de sabedoria, considerado a terceira escritura mais importante do taoísmo, logo após o Tao Te Ching e o Zhuangzi.

Repleto de histórias filosóficas, o texto explora a natureza da realidade e o propósito da vida. Um tema, contudo, ressoa com uma força particular: a nossa tendência de sermos os nossos próprios sabotadores. Dominados por uma mente que arde em desejos, tentando ansiosamente controlar o que é incontrolável, nós nos tornamos rígidos e incapazes de permitir que o universo siga o seu curso. Nós trocamos a espontaneidade pelo medo. E quanto mais lutamos contra o fluxo do universo, mais dolorosa se torna a nossa existência, pois a vida, inevitavelmente, muda em direções que não nos agradam.

Mas como podemos regressar a esse fluxo natural? O que aconteceria se ousássemos soltar os nossos apegos e desejos, os nossos medos e inibições, e nos tornássemos leves como uma pena, como Lieh Tzu?

A Leveza de Ser

A tradição nos conta sobre a transformação deste mestre. Após um longo período de disciplina do corpo e da mente, ele abandonou as noções de certo e errado que nos dividem. Depois de anos de prática, Lieh Tzu percebeu que a barreira entre ele e o mundo exterior havia desaparecido. Com ela, foi-se também o peso dos seus ossos e da sua carne. "Sem saber, eu estava a ser carregado pelo vento", afirmou ele. "À deriva, sem rumo, eu não sabia se estava a cavalgar o vento ou se o vento estava a cavalgar em mim."

Cavalgar o vento, claro, é uma metáfora. É um estado de espírito no qual nos movemos pela vida com uma leveza flutuante. Cavalgamos o vento quando as circunstâncias externas já não nos pesam, não porque as vencemos, mas porque vivemos em harmonia com elas. Lao Tzu descreveu este estado como tornar-se "um com a poeira", um estado em que não se pode ser beneficiado nem prejudicado, exaltado nem desgraçado. Imagine como a vida seria se nada no universo pudesse realmente nos ferir.

O Sonho do Imperador

Uma das mais belas descrições deste estado encontra-se na história do lendário Imperador Amarelo. Após anos governando o seu país nos mínimos detalhes, ele encontrava-se exausto, com a saúde debilitada e uma profunda inquietação na alma. Decidiu fazer uma pausa e entregou-se aos maiores prazeres para satisfazer os sentidos, mas isso apenas o deixou mais cansado. "Eu mimei-me demais e depois esforcei-me demais", concluiu ele.

Então, ele retirou-se para os seus aposentos, afastando-se dos deveres e dos prazeres, para se dedicar ao que os taoístas chamam de "jejum do coração": a arte de se libertar dos desejos terrenos para que o corpo se sincronize com o curso natural das coisas. Após três meses, exausto de tentar alcançar um resultado, ele adormeceu durante o dia e sonhou.

Sonhou com uma viagem a um reino distante. Este reino não tinha governante; ele simplesmente seguia o seu curso. O seu povo não tinha desejos e não se apegava à vida nem temia a morte. Não havia preferências nem preconceitos. O amor e o ódio não existiam. Coisas como ganho e perda eram estranhas para eles. Imunes às circunstâncias, moviam-se como deuses. A água não os podia afogar, o fogo não os podia queimar. "Eles atravessavam o ar como se pisassem em terra firme; eram embalados no espaço como se estivessem a descansar numa cama."

Ao acordar, o Imperador sentiu-se iluminado. Ele compreendeu que o "Caminho" não pode ser alcançado pelo esforço consciente ou explicado por palavras. É algo que acontece espontaneamente. No seu caso, num sonho, que ocorreu precisamente quando ele parou de tentar.

O Paradoxo da Não-Ação

Como podemos, então, nos tornar leves e cavalgar o vento? O Lieh Tzu oferece-nos pistas, mas revela uma natureza paradoxal. Por um lado, é necessária uma certa prática para abandonar os desejos e as categorias criadas pela mente. Por outro lado, a iluminação parece acontecer de repente. Lieh Tzu levou anos; o Imperador, apenas alguns meses. Em ambos os casos, a mudança ocorreu quando eles alcançaram um estado de "não-prática".

É o que o taoísmo chama de wu wei, ou "fazer sem fazer". É somente quando paramos de nos esforçar, de lutar contra o que é, que chegamos onde queremos estar: no estado de fluxo, flutuando com a corrente da natureza em vez de resistir a ela. Lao Tzu ensina:

"Aquele que busca conhecimento aprende algo novo todos os dias. Aquele que busca o Tao desaprende algo novo todos os dias. Cada vez menos permanece até você chegar à não-ação. Quando você chega à não-ação, nada fica por fazer. O domínio do mundo é alcançado deixando as coisas seguirem seu curso natural."

O Salto do Agricultor e a Armadilha da Mente

Considere a história de um agricultor chamado Simão. Ele conseguia saltar dos penhascos mais altos sem se ferir e resgatar bens de um prédio em chamas. Ele fazia tudo isso com pura espontaneidade, sem hesitação, medo ou desejo de recompensa. No entanto, no momento em que começou a pensar nos riscos, a calcular e a duvidar, ele descobriu o medo. O seu corpo tornou-se um fardo pesado.

Quando Simão saltava para a arena da vida sem relutância, ele não era impedido pela dúvida, pois não tinha nada a ganhar ou a perder. Ele simplesmente fluía. Mas a partir do momento em que a sua mente assumiu o controlo, ele ficou no seu próprio caminho. Como o filósofo Alan Watts refletiu, a maioria de nós move-se em constante oposição a si mesma, por medo de que, se não o fizermos, algo terrível acontecerá.

Lieh Tzu mostra-nos que apenas quando transcendemos a dualidade da vida — ganho e perda, atração e repulsa — podemos nos tornar verdadeiramente indiferentes, e começar a agir sem outra razão além da ação em si. Porque o que há para temer quando o resultado é irrelevante?

Quando alcançamos esse estado, não nadamos na água; a água nada por nós. Não somos queimados pelo fogo; tornamo-nos o próprio fogo. E então, antes que percebamos, num dia de tempestade, podemos de repente começar a cavalgar o vento.

Referências Sugeridas:

  • Lieh-tzu. (1990). The Book of Lieh-tzu: A Classic of Tao. (A. C. Graham, Trad.). Columbia University Press.

    Este livro é a tradução da fonte primária discutida no artigo. Ele contém as histórias originais do Imperador Amarelo, a jornada de Lieh Tzu para "cavalgar o vento" e outras narrativas filosóficas que formam a base do texto. O Livro 2, "O Imperador Amarelo", é particularmente relevante para as histórias mencionadas.

  • Watts, A. (1975). Tao: The Watercourse Way. Pantheon Books.

    Esta obra oferece uma interpretação ocidental acessível e profunda dos conceitos taoístas centrais, como o Tao, a não-ação (wu wei) e a espontaneidade. O livro ajuda a contextualizar a filosofia de Lieh Tzu para um leitor moderno, explicando como a resistência mental cria sofrimento e como a rendição ao "fluxo" natural da vida leva à liberdade, um tema central do artigo.

  • Chuang-tzu. (1996). The Complete Works of Chuang Tzu. (B. Watson, Trad.). Columbia University Press.

    Como o Zhuangzi é mencionado como um dos três textos taoístas fundamentais, esta referência fornece um contexto filosófico mais amplo. As histórias e os discursos de Chuang Tzu exploram temas semelhantes de liberdade, a inutilidade do esforço convencional e a dissolução do ego, ecoando e complementando as lições encontradas no Lieh Tzu.

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