O que acontece ao seu cérebro sob o efeito de psicadélicos: cura ou dano?

A crescente curiosidade sobre os psicadélicos convida a uma exploração mais profunda, despida de preconceitos, mas carregada de cautela. Não é segredo que estas substâncias carregam uma reputação ambígua, oscilando entre o divino e o perigoso. O nosso objetivo aqui não é dar um sermão, mas sim olhar para o que a ciência moderna tem descoberto sobre como os psicadélicos afetam o cérebro e como esses efeitos podem, paradoxalmente, ser um caminho para a cura.

A Percepção Alterada da Realidade

A característica que une todos os psicadélicos, desde os cogumelos de psilocibina ao LSD, é a sua capacidade de alterar a nossa perceção da realidade. Para muitos, essa mudança de perspetiva não é apenas uma distorção, mas uma epifania, um despertar espiritual que pode oferecer insights profundos sobre si mesmo e sobre as relações com o mundo.

Estas substâncias também são conhecidas como alucinógenos, precisamente porque podem fazer-nos ver e ouvir coisas que não estão fisicamente presentes. Para alguns, estas não são meras alucinações, mas sim a abertura de uma porta para uma dimensão da realidade que normalmente nos é inacessível. Independentemente da interpretação que se dê à experiência, o facto é que ela acontece através de uma alteração na química cerebral, influenciando neurotransmissores como a serotonina e o glutamato, ambos cruciais para a forma como percebemos o mundo.

A Química por Trás da Experiência

Curiosamente, os psicadélicos não parecem ser tão viciantes como outras classes de drogas, pois o corpo tende a desenvolver uma tolerância rápida a muitas delas, o que desencoraja o uso contínuo. No entanto, os efeitos imediatos e residuais não podem ser ignorados. Visão turva, tonturas e falta de coordenação são comuns durante a experiência, e alguns efeitos na perceção podem persistir. Uma vez que uma nova porta da mente é aberta, por vezes ela não se fecha completamente.

A investigação moderna tem explorado como esta alteração química pode ser benéfica no tratamento da própria dependência de outras substâncias, embora esta área de estudo ainda esteja na sua infância.

O Poder e a Subjetividade do Insight

Um antigo estudo de 1982 sobre a relação entre psicadélicos e psicologia destacou como cinco indivíduos sentiram que as suas experiências facilitaram um crescimento psicológico significativo. Todos relataram uma nova forma de ver o mundo e sentimentos de iluminação. Soa promissor, certo?

No entanto, é aqui que reside a subtileza da questão. O facto de os participantes sentirem que a sua perceção e compreensão melhoraram significa necessariamente que isso aconteceu de forma objetiva? O insight obtido sob o efeito de um psicadélico pode ter um significado pessoal imenso, mas permanece subjetivo. As coisas parecerem diferentes não é o mesmo que estarem melhores. Contudo, por vezes, a crença na mudança é um motor tão poderoso como a própria mudança. O significado que as pessoas retiram destas experiências pode ser útil, especialmente quando uma mudança de perspetiva é desesperadamente necessária, como se observa em tratamentos assistidos para a depressão.

Riscos e Danos Potenciais

É fundamental lembrar que o cérebro é uma máquina finamente calibrada. Alterar a sua química tem consequências. Drogas como o LSD podem levar a uma condição conhecida como Transtorno Perceptivo Persistente por Alucinógenos (HPPD), onde o indivíduo continua a ter distorções percetivas muito tempo depois do uso. Embora não seja extremamente comum, é um risco conhecido. Da mesma forma, estimulantes psicadélicos como o MDMA podem, em certos casos, desencadear psicose paranoica.

Um Novo Horizonte Terapêutico?

Apesar dos riscos, a ciência tem explorado seriamente os benefícios terapêuticos de substâncias como a psilocibina, o MDMA e a ayahuasca para condições como o Transtorno de Stress Pós-Traumático (TEPT), a depressão e a ansiedade. É crucial sublinhar que estes estudos são conduzidos em ambientes clínicos rigorosamente controlados, com a presença de profissionais de saúde para garantir a segurança dos participantes.

Ironicamente, novas evidências sugerem que certos psicadélicos podem ser úteis no tratamento da esquizofrenia, precisamente pela forma como interagem com os sistemas de serotonina e glutamato. Num estudo de 2022, publicado na revista Pharmaceuticals, esta possibilidade foi explorada. Embora seja uma notícia promissora para quem já lida com a condição, não significa que estas substâncias sejam inócuas para o resto da população.

Pesquisas sobre o tratamento da ansiedade também se mostram promissoras. Estudos indicam que os psicadélicos podem ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade ao aumentar a autoconsciência e melhorar as funções sociais.

No final, a mensagem é de esperança cautelosa. É essencial que deixemos os investigadores definirem os parâmetros seguros e úteis para o uso destas substâncias antes de qualquer um de nós considerar a automedicação. Por agora, se o seu caminho se cruzar com os psicadélicos, seja gentil e cauteloso com o seu cérebro. E quanto ao debate entre o que é "natural", como cogumelos ou peiote, e o que é sintético, a ciência ainda não encontrou evidências de que um seja inerentemente mais ou menos prejudicial que o outro.

Referências e Leituras Recomendadas

  • Mitchell, J. M., Bogenschutz, M., Lilienstein, A., et al. (2021). MDMA-assisted therapy for severe PTSD: a randomized, double-blind, placebo-controlled phase 3 study. Nature Medicine, 27(6), 1025–1033.
    Este artigo apresenta os resultados do primeiro estudo de fase 3 sobre a terapia assistida por MDMA para TEPT grave. Demonstra uma eficácia significativamente maior do tratamento com MDMA em comparação com o placebo, destacando a sua segurança e potencial para se tornar um tratamento aprovado para uma condição notoriamente difícil de tratar. (Corresponde à menção do uso de MDMA para TEPT).
  • Carhart-Harris, R. L., Giribaldi, B., Watts, R., et al. (2021). Trial of Psilocybin versus Escitalopram for Depression. New England Journal of Medicine, 384(15), 1402–1411.
    Esta publicação descreve um ensaio clínico que comparou diretamente os efeitos da psilocibina com os de um antidepressivo padrão (escitalopram) no tratamento da depressão. Os resultados indicaram que a psilocibina produziu reduções rápidas e sustentadas nos sintomas depressivos, embora não tenha havido uma diferença estatisticamente significativa no desfecho primário em relação ao antidepressivo, o que alimenta o debate sobre a sua eficácia e mecanismo. (Confirma a pesquisa sobre psilocibina e depressão).
  • Geyer, M. A., & Vollenweider, F. X. (2008). Serotonin, Sero­tonin Receptors, and Human Hallucinogen Research. In C. A. Marsden (Ed.), The Serotonin Receptors: From Molecular Pharmacology to Human Therapeutics (pp. 691-732). Humana Press.
    Este capítulo de livro oferece uma visão abrangente de como os psicadélicos clássicos, como o LSD e a psilocibina, interagem com os recetores de serotonina (especificamente o 5-HT2A) e como essa interação está ligada aos seus efeitos na perceção, cognição e humor. Explica a base neuroquímica por trás das alucinações e das alterações de consciência. (Confirma a menção da interação com a serotonina e o glutamato como base dos efeitos percetivos).
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