O Silêncio que Adoece: Quando o que Não é Dito Vira Sintoma

Artigo | Trauma

1. INTRODUÇÃO

Na era da performance e da autocobrança, falar sobre emoções tornou-se um ato de coragem. Muitos indivíduos vivem sufocados pelo que sentem, mas não conseguem expressar, seja por medo, culpa, vergonha ou por falta de um espaço de escuta. O que é silenciado não desaparece: transforma-se e, muitas vezes, adoece.

A Psicanálise nos ensina que “o sintoma é uma fala aprisionada”. Quando a palavra é reprimida, o corpo fala. O silêncio se converte em ansiedade, insônia, crises emocionais, dores sem diagnóstico e comportamentos impulsivos. Este artigo busca compreender como o “não-dito” se torna sintoma e como a escuta clínica pode ressignificar a experiência do sofrimento.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Freud: O retorno do recalcado

Freud (1926) afirma que tudo o que é reprimido retorna. O silêncio emocional não é esquecimento, mas recalcamento. Aquilo que não pode virar palavra se torna sintoma a via encontrada pelo inconsciente para se manifestar.

2.2 Lacan: O que não é simbolizado, é atuado

Para Lacan, “a palavra é a morada do ser”. Quando o sujeito não consegue simbolizar sua dor, ela é atuada no corpo ou nas relações. O sintoma então surge como um pedido de escuta.

2.3 A Neuropsicanálise e o corpo emocional

Estudos da Neuropsicanálise indicam que emoções reprimidas ativam o sistema nervoso autônomo, gerando tensões musculares, alterações cardíacas e distúrbios hormonais. O corpo é impactado pelas palavras não ditas.

[Image of autonomic nervous system diagram]

3. O SILÊNCIO COMO MECANISMO DE DEFESA

  • Medo de rejeição
  • Desejo de agradar
  • Vergonha e culpabilização
  • Traumas anteriores
  • Ausência de rede de apoio

O sujeito silencia para sobreviver, mas silenciar-se continuamente é uma forma de morrer de pouco em pouco.

4. QUANDO O CORPO FALA: Sintomas mais comuns

Sintoma Psíquico/Físico Possível origem inconsciente
1 - Ansiedade e angústia 1 - Emoções contidas
2 - Dores crônicas 2 - Tensões não elaboradas
3 - Compulsões alimentares 3 - Necessidade de preencher faltas
4 - Insônia 4 - Pensamentos não simbolizados
5 - Ataques de pânico 5 - Acúmulo de afeto reprimido

5. A ESCUTA TERAPÊUTICA COMO CURA

A fala reorganiza o universo psíquico. O ato analítico permite que o sujeito nomeie seu sofrimento e encontre caminhos antes invisíveis. O silêncio deixa de ser prisão e passa a ser ponte para a cura.

Citar Winnicott aqui é essencial: o terapeuta deve oferecer um ambiente suficientemente bom, onde a palavra seja acolhida e não julgada.

6. CONCLUSÃO

Tudo o que é recalcado busca retornar. O sintoma é um pedido de escuta, um grito que emerge onde faltou palavra. O silêncio pode ser defesa, mas também pode ser o início do adoecimento. A Psicanálise não obriga a falar ela convida. Convida o sujeito a se encontrar com a sua própria história, e a ressignificar o que parecia impossível de ser tocado.

Porque aquilo que não é dito… permanece vivo.

E aquilo que permanece vivo… pede para ser ouvido.

REFERÊNCIAS

  1. FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926).
  2. LACAN, J. Escritos (1966).
  3. WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação.
  4. SOLMS, M. The Brain and the Inner World (neuropsicanálise).
  5. CYRULNIK, B. Os patinhos feios: resiliência e sofrimento.