As Sete Dimensões da Personalidade Sexual: Um Guia Para se Conhecer Melhor.
A sexualidade humana é um território vasto e complexo, que vai muito além das nossas fantasias e da orientação que declaramos. Existe uma conexão profunda entre quem somos e como vivemos os nossos desejos. A nossa personalidade, com todas as suas nuances, molda a forma como nos relacionamos, amamos e expressamos a nossa intimidade. É um convite para olhar para dentro e entender que cada faceta da nossa psique contribui para a nossa expressão sexual.
Os pesquisadores David Schmitt e David Buss mergulharam nesse universo e identificaram sete dimensões fundamentais da personalidade que ajudam a explicar como experienciamos e manifestamos a nossa sexualidade. Eles as batizaram de “as sete dimensões sensuais”. Compreender estas dimensões pode iluminar a dinâmica dos seus relacionamentos e oferecer uma nova perspetiva sobre as suas próprias experiências e preferências. Vamos explorar como a sua personalidade se entrelaça com os seus pensamentos e comportamentos sexuais.
1. Investimento Emocional
Esta dimensão mede a profundidade da sua entrega nos relacionamentos românticos. Se é alguém que genuinamente valoriza o seu parceiro e se dedica a fazê-lo sentir-se especial, as suas experiências sexuais são provavelmente repletas de calor e conexão. Os seus gestos atenciosos e o afeto sincero criam um ambiente seguro onde ambos se sentem amados e respeitados. Pode manifestar-se no desejo de sussurrar palavras doces ou em carícias gentis. No entanto, não se trata apenas de dar; trata-se também da necessidade de se sentir desejado, amado e respeitado. A sintonia acontece com parceiros que correspondem a este nível de investimento, e quando se sente igualmente valorizado, a porta abre-se para explorar novas e excitantes facetas da intimidade a dois.
2. Exclusividade no Relacionamento
Quando está numa relação, pende para o compromisso total ou prefere uma dinâmica onde há liberdade para explorar outras conexões? É disso que trata a exclusividade: o grau em que se abstém de encontros sexuais fora do seu relacionamento principal. Quem valoriza a exclusividade tende a ser menos propenso a encontros casuais e à infidelidade. Em contrapartida, por vezes, a insegurança sobre o compromisso do parceiro pode minar a sensação de intimidade e afeto. Por outro lado, quem adota uma postura mais aberta a múltiplas parcerias, muitas vezes, não teme correr riscos e relata uma grande satisfação nos seus encontros sexuais. Contudo, esta abertura pode, em alguns casos, coexistir com uma certa resistência a uma intimidade mais profunda e a uma conexão emocional singular.
3. Disposição Erotófila
A disposição erotófila refere-se à sua abertura e positividade em relação a estímulos sexuais. Se uma massagem sensual ou beijos espontâneos do seu parceiro o excitam facilmente, é provável que tenha uma relação mais aberta com a sua sexualidade e aprecie a intimidade em todas as suas formas. Uma pontuação alta nesta característica geralmente correlaciona-se com a sensação de ser mais amado e respeitado durante as interações sexuais. O oposto é a erotofobia, uma resposta negativa a estímulos sexuais. Neste caso, pode haver uma preferência por abordagens mais tradicionais ao sexo, um sentimento de culpa sexual ou desconforto com temas como pornografia ou masturbação.
4. Atratividade Sexual
Esta dimensão reflete a percepção da sua própria capacidade de atrair um parceiro desejável. Essencialmente, é a confiança que tem ao usar o seu charme para se aproximar daqueles que deseja. Níveis elevados aqui significam que, provavelmente, tem orgulho da sua aparência e recebe frequentemente elogios de parceiros em potencial. Isto pode fortalecer a sua autoconfiança e autoestima física, conferindo-lhe um forte sentido de controlo nas interações sexuais. Este controlo percebido traduz-se, muitas vezes, na capacidade de estabelecer limites saudáveis e de comunicar abertamente os seus desejos, o que pode levar a uma vida sexual extremamente satisfatória.
5. Restrição Sexual
A restrição sexual diz respeito à sua capacidade de controlar os seus impulsos sexuais. Pessoas com uma alta pontuação nesta dimensão tendem a ter menos parceiros sexuais e podem sentir alguma culpa associada aos encontros íntimos. As razões para esta restrição são variadas. Pode derivar de convicções pessoais, como a crença em esperar pelo momento ou pela pessoa certa. A cultura também desempenha um papel fundamental; algumas sociedades promovem a abstinência antes do casamento ou consideram tabu qualquer conversa aberta sobre sexo, moldando assim as crenças individuais. Esta característica é, portanto, frequentemente uma mistura de valores pessoais e influências culturais.
6. Orientação Sexual
A orientação sexual define como identifica a sua sexualidade, seja como heterossexual, homossexual, bissexual ou em qualquer outro ponto do espectro. Estudos sobre satisfação sexual indicam que ter um sentido claro de identidade sexual e sentir-se confortável com ela torna os relacionamentos mais gratificantes. Mulheres bissexuais, por exemplo, destacam a importância da aceitação social para a sua satisfação. Quando se sentem aceites, o seu bem-estar geral e sexual aumenta. Da mesma forma, mulheres lésbicas tendem a valorizar mais a interdependência e a intimidade em comparação com mulheres heterossexuais. Independentemente de como se identifica, abraçar a sua orientação sexual é um passo fundamental para relacionamentos mais felizes e plenos.
7. Orientação de Gênero
De forma análoga à orientação sexual, esta dimensão indica o grau em que se identifica exclusiva ou predominantemente como masculino ou feminino. Um forte sentido de identidade de gênero, seja ele qual for, pode aumentar a confiança durante as interações sexuais. Contudo, nem todos se sentem unicamente masculinos ou femininos. Algumas pessoas podem sentir-se confusas sobre onde se encaixam, o que, em casos extremos, é conhecido como disforia de gênero — um profundo desconforto quando a identidade de gênero de uma pessoa não corresponde ao seu sexo atribuído no nascimento. Pessoas transgênero, não-binárias ou que experienciam esta disforia podem enfrentar dificuldades na intimidade, como vergonha de partes do corpo, o que pode levar a evitar a intimidade. Para elas, o sexo pode ser uma experiência assustadora. O apoio, reconhecimento e valorização por parte dos parceiros são, nestes casos, absolutamente essenciais.
Referências
- Schmitt, D. P., & Buss, D. M. (2000). Sexual dimensions of person description: Beyond or subsumed by the big five? Journal of Research in Personality, 34(2), 141-177.
Este artigo seminal é a base para a ideia de que a personalidade sexual possui dimensões distintas que não são totalmente explicadas pelos "Cinco Grandes" traços de personalidade. Os autores investigam e propõem um léxico de termos sexuais que as pessoas usam para se descrever e descrever os outros, fornecendo a estrutura académica para dimensões como "Investimento Emocional" e "Restrição Sexual". - Buss, D. M. (2016). The evolution of desire: Strategies of human mating (Revised and updated edition). Basic Books.
Embora seja um livro mais amplo, esta obra de David Buss oferece o pano de fundo evolutivo para muitas das dimensões mencionadas, especialmente a "Atratividade Sexual" e a "Exclusividade no Relacionamento". Explica como as estratégias de acasalamento humanas, tanto a curto como a longo prazo, moldaram os nossos desejos e preferências, o que se alinha com as diferentes facetas da personalidade sexual discutidas no artigo. - Schmitt, D. P. (2004). Sociosexuality from Argentina to Zimbabwe: A 48-nation study of sex, culture, and strategies of human mating. Behavioral and Brain Sciences, 27(2), 247–311.
Esta pesquisa intercultural de David Schmitt oferece dados empíricos que sustentam as dimensões de "Exclusividade no Relacionamento" e "Restrição Sexual". Ao estudar a sociossexualidade (a disposição para se envolver em sexo casual) em 48 nações, o estudo demonstra como fatores culturais e individuais influenciam o comportamento sexual, confirmando que a restrição e a exclusividade variam significativamente e são partes centrais da personalidade sexual em todo o mundo.