Como podemos buscar o entendimento em vez da vitória num debate?

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"Vamos concordar em discordar." Esta frase, tão comum em nosso vocabulário, é frequentemente vista como um sinal de maturidade e respeito mútuo. Ela surge como uma bandeira branca em meio a um debate acalorado, uma forma de encerrar uma discussão que parece não levar a lugar algum. Essencialmente, é um pacto para que cada um permaneça em sua trincheira de pensamento, tolerando a visão do outro sem, no entanto, aceitá-la. A única resolução, paradoxalmente, é concordar em não ter uma.

Muitos acreditam que esta é uma atitude consciente e amigável. Contudo, essa percepção pode ser uma perigosa ilusão. E se essa suposta solução for, na verdade, o cerne de um problema muito maior, que impede nosso crescimento, corrói nossos relacionamentos e nos aprisiona em uma estagnação disfarçada de paz?

O Obstáculo ao Crescimento Pessoal e Coletivo

Do ponto de vista do desenvolvimento, a divergência de opiniões é uma oportunidade de ouro. Quando duas pessoas comprometidas com a verdade se encontram com perspectivas opostas, cria-se um campo fértil para a expansão. O atrito de ideias pode gerar uma nova luz, uma verdade mais elevada que nenhuma das partes possuía individualmente. Uma pessoa pode perceber a validade na perspectiva da outra e, assim, refinar seu próprio entendimento. Ou, juntas, podem construir uma síntese, uma visão mais ampla e acomodativa.

Um filósofo ou um cientista entende que o progresso nasce do questionamento, do desafio constante às nossas próprias certezas. Concordar em discordar é o oposto disso. É declarar um impasse, um fim prematuro para a busca. É uma aceitação consciente da estagnação. Dizer "concordo em discordar" é tão limitador quanto fingir que se concorda com alguém quando, na verdade, o sentimento é de total oposição. É um convite à inércia.

A dinâmica da vida, no entanto, parece ter pouca paciência para a estagnação. Um conflito não resolvido não desaparece; ele apenas se esconde, acumulando pressão sob a superfície. A curto prazo, o acordo de discordar pode trazer um alívio temporário. A longo prazo, a tensão tende a escalar, culminando em uma crise que força a questão a vir à tona de uma forma muito mais extrema, tornando impossível qualquer tipo de tolerância passiva.

A Impossibilidade Prática em Questões Essenciais

Em muitos cenários, concordar em discordar é simplesmente inviável. É impossível quando há um conflito de interesses direto, onde as ações de uma pessoa impactam inevitavelmente a vida da outra. Algumas diferenças de opinião são triviais, como a preferência por uma cor ou um gênero de filme. Outras são cruciais, pois as crenças se traduzem em escolhas e as escolhas em ações.

Imaginar que as perspectivas opostas não levarão a ações conflitantes é uma fantasia perigosa. Se um vizinho acredita que a melhor coisa a fazer é construir uma estrada no meio da sua propriedade e você discorda veementemente, dizer "vamos concordar em discordar" não o impedirá de acordar um dia com o barulho de tratores. As crenças de uma pessoa sobre parentalidade, saúde ou política moldam suas ações, e essas ações têm consequências que se estendem para além dela.

Pensemos em dois grupos de pais. Um grupo, liderado por Ana, acredita firmemente na importância de certas práticas de saúde para a comunidade escolar, enquanto outro, liderado por Pedro, as vê como um risco. Eles podem "concordar em discordar" apenas até o momento em que uma decisão coletiva precise ser tomada. Nesse ponto, a segurança e o bem-estar de seus filhos entram em jogo, transformando o impasse em um conflito de soma zero, onde a vitória de um lado representa uma perda direta para o outro. A amizade e a tolerância passiva se tornam insustentáveis.

O Dano Oculto nos Relacionamentos

Contrariamente à crença popular, concordar em discordar é extremamente prejudicial para os relacionamentos. Usamos essa frase para evitar conflitos e preservar a proximidade, mas o efeito é o oposto. Para que essa atitude seja possível, é preciso operar a partir de uma percepção de separação, uma filosofia de "você na sua, eu na minha". Sob o manto da tolerância, esconde-se uma forma rígida e distanciadora de existir.

Essa postura também carrega uma dose de arrogância. Quem diz "concordo em discordar" raramente está aberto a mudar de ideia. Na verdade, a frase muitas vezes significa: "Eu sei que estou certo e vou pacientemente esperar que você perceba o seu erro. Até lá, vamos fingir que este assunto não existe". Isso não é tolerância; é supressão ativa. É aguardar o momento de dizer "eu avisei".

A verdadeira conexão em um relacionamento, seja de amizade, familiar ou amoroso, vem da busca por alinhamento. Renunciar a essa busca é desistir de uma parte vital da relação. O conflito não resolvido permanece como um elefante na sala, uma fonte de tensão constante. É um estado de dissonância que, em vez de aproximar, cria uma fissura silenciosa que pode, com o tempo, se tornar um abismo.

A Falsa Identidade Encontrada na Oposição

Para algumas pessoas, a identidade está tão entrelaçada com suas crenças que qualquer mudança é percebida como uma perda de si mesmo. O alinhamento com o outro é visto não como uma expansão, mas como uma aniquilação pessoal. Para essas pessoas, que podem ter sofrido com traumas de superenvolvimento no passado, a oposição torna-se uma forma de sentir a própria individualidade e liberdade. A frase "tenho direito à minha opinião" surge como um escudo, uma falácia que desvia o foco da validade da opinião em si para o suposto direito de mantê-la, não importa o quão falha seja.

No entanto, se você se depara com novas evidências ou perspectivas que o levam a mudar de ideia, você não perdeu a si mesmo. Você evoluiu. Seu pensamento não foi perdido; foi modificado. Ele ainda é seu.

Em vez de concordar em discordar, o caminho mais corajoso e produtivo é comprometer-se a entender. Devemos buscar ativamente ver, sentir e ouvir todas as perspectivas envolvidas em uma questão. Isso exige a humildade de aceitar que nossas experiências pessoais nos tornaram tendenciosos e que nossa visão é, por natureza, limitada.

Imagine que sua essência é um pilar central. Suas crenças, opiniões e traços de personalidade são como ímãs presos a esse pilar. Para alcançar uma perspectiva mais objetiva e encontrar um alinhamento genuíno, é preciso praticar a desidentificação: a habilidade de remover temporariamente esses ímãs, observá-los como parte de você, mas não como a totalidade de quem você é. Quanto melhor você se torna nisso, mais fácil fica questionar e mudar suas próprias ideias sem sentir que está se traindo.

Conformidade não é alinhamento. O objetivo não é abandonar sua verdade pessoal para agradar o outro, mas sim buscar, junto com o outro, uma verdade maior que possa abarcar ambas as perspectivas.

A frase "concordar em discordar" é uma afirmação de que certos conflitos são irresolúveis. Mas será que são mesmo? E se aceitarmos essa premissa, quais são os benefícios e, mais importante, quais são os enormes custos de fazer isso?

Referências Sugeridas

  • Patterson, K., Grenny, J., McMillan, R., & Switzler, A. (2012). Crucial Conversations: Tools for Talking When Stakes Are High. McGraw-Hill.
    Esta obra oferece um guia prático para lidar com diálogos difíceis e de alto risco. A principal tese do livro, a criação de um "conjunto de significados partilhados" (pool of shared meaning), contrasta diretamente com a ideia de "concordar em discordar", defendendo que o objetivo da comunicação em conflitos deve ser a mútua compreensão e a criação de uma solução conjunta, em vez do abandono do diálogo. A metodologia apresentada ensina a manter o respeito e a segurança para que todas as partes possam contribuir abertamente, promovendo o alinhamento em vez da estagnação.
  • Dweck, C. S. (2006). Mindset: The New Psychology of Success. Random House.
    O trabalho de Carol Dweck sobre mentalidade de crescimento (growth mindset) versus mentalidade fixa (fixed mindset) fornece uma base psicológica para entender por que "concordar em discordar" é tão prejudicial. A mentalidade fixa vê as habilidades e a inteligência como traços estáticos, levando a uma necessidade de provar que se está certo e a evitar desafios. Em contraste, a mentalidade de crescimento, que o artigo implicitamente defende, prospera com o desafio e vê o desacordo como uma oportunidade para aprender e se expandir. Concordar em discordar é uma manifestação clássica da mentalidade fixa, pois evita o esforço de aprender com uma perspectiva oposta (particularmente nos Capítulos 1 e 2, que introduzem os conceitos).
  • Stone, D., Patton, B., & Heen, S. (2010). Difficult Conversations: How to Discuss What Matters Most. Penguin Books.
    Este livro analisa a anatomia das conversas difíceis, argumentando que todo desacordo opera em três níveis: o que aconteceu, os sentimentos envolvidos e as questões de identidade. A obra sugere que, em vez de focar em quem está certo ou errado (uma armadilha que leva a "concordar em discordar"), devemos mudar para uma "postura de aprendizagem", onde o objetivo é entender a história da outra pessoa e como ela chegou às suas conclusões. Esta abordagem ressoa diretamente com o apelo do artigo para "buscar entender em vez de concordar" e para se desidentificar da própria posição para encontrar um caminho a seguir (relevante ao longo do livro, mas especialmente na Parte II: "Mude para uma Postura de Aprendizagem").