A psicoterapia positiva, desenvolvida pelo psiquiatra germano‑iraniano Nossrat Peseschkian, chegou ao Brasil no início dos anos 2000, trazendo uma perspectiva transcultural que dialoga bem com a diversidade sociocultural do país. Seu princípio fundamental – ver o ser humano como portador de capacidades e não apenas de sintomas – soa familiar numa cultura já marcada pelo jeitinho criativo de resolver problemas. Em consultório, o profissional convida o cliente a mapear quatro áreas de vida: corpo/sentidos, desempenho, contato/fantasias e futuro/espiritualidade. Esse “diálogo das balanças” evidencia desequilíbrios: alguém pode investir energia excessiva no trabalho (desempenho) às custas de relações íntimas (contato). O terapeuta, então, não “corrige” o erro, mas desperta curiosidade sobre potenciais negligenciados.
Uma sessão típica combina narrativas, parábolas orientais e exercícios práticos. Peseschkian defendia que histórias curtas atravessam resistências intelectuais, tocando dimensões afetivas sem confrontar valores de forma direta. Assim, um conto sobre um jardineiro persa pode ilustrar a importância da paciência, permitindo que o cliente reflita sobre prazos rígidos que impõe a si mesmo. Após a história, o terapeuta propõe “tarefas de micro‑passo”: escrever uma carta de gratidão, andar descalço por cinco minutos no jardim para reconectar‑se aos sentidos ou reservar duas horas semanais a um hobby esquecido.
No Brasil, pesquisas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul indicam redução de 40 % nos níveis de ansiedade generalizada após dez encontros de psicoterapia positiva aliados a diários de bem‑estar. Em grupos de terceira idade, exercícios de “troca de talentos” – onde cada participante ensina algo que sabe fazer bem – aumentaram percepção de utilidade social. Empresas de tecnologia, por outro lado, utilizam a abordagem para prevenir burnout: colaboradores são incentivados a identificar pelo menos um ponto forte do colega a cada reunião de feedback, cultivando clima de reconhecimento mútuo.
A psicoterapia positiva não nega sofrimento; ela o contextualiza dentro da narrativa maior da vida. Quando um cliente relata perda, explora‑se o conceito de “tempo de crise” versus “tempo de recurso”: quais experiências anteriores provam sua capacidade de resiliência? Esse foco em recursos não é otimismo cego, mas realismo esperançoso. Éticamente, o terapeuta deixa claro que a abordagem complementa – não substitui – medicações ou intervenções mais estruturadas quando necessárias.
Formações brasileiras recomendam 240 horas de teoria e prática supervisionada, incluindo análise de contos, treinamento em autopercepção corporal e aplicações em grupos. Ao final, a mensagem central é que cada pessoa possui um “tesouro interno” – forças culturais, memórias de sucesso, valores inspiradores – capaz de orientar o próximo passo com maior clareza e confiança.