A Terapia Estrutural de Família (TEF) conquistou espaço no Brasil a partir dos anos 1990, quando profissionais buscaram modelos mais pragmáticos para lidar com a complexidade de lares recompostos, altas taxas de divórcio e questões de violência doméstica. Inspirada nos trabalhos de Salvador Minuchin, a abordagem entende a família como um “organismo social” cujos sintomas surgem quando a organização interna fica rígida ou caótica. Em vez de focar apenas no indivíduo identificado como ‘paciente-ind...
No consultório, o terapeuta atua como coreógrafo: observa distâncias físicas, quem se senta ao lado de quem, interrupções de fala. Esses microgestos revelam fronteiras invisíveis. Um filho que sempre media a conversa dos pais pode estar em triângulo, assumindo papel parental. A intervenção inclui “desencaixe” (o terapeuta senta-se entre eles para devolver liderança aos adultos) ou “aliança de coalizão” (quando o terapeuta se junta temporariamente a um membro subjugado para equilibrar forças).
Núcleo do processo são os limites: difusos, rígidos ou claros. Famílias com limites difusos vivem fusões emocionais: mãe que responde pelo filho adolescente. Famílias rígidas, por outro lado, impedem apoio: cada um trancado em seu quarto. A TEF ajuda a calibrar esse termostato, criando fronteiras claras, mas permeáveis, que favorecem autonomia sem romper vinculação.
Pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (2024) mostram que, após doze sessões de TEF, casais reportaram redução de 40 % em escalas de conflito conjugal, e adolescentes apresentaram queda em comportamentos de risco. Elemento crítico foi a técnica de reestruturação, onde o terapeuta encena novos padrões: pai aprende a dar instruções diretas, mãe pratica escuta ativa, irmãos negociam regras de privacidade.
Culturalmente, a TEF brasileira integra rodas de conversa e rituais familiares: preparar feijoada juntos ou compartilhar músicas de infância reforça coesão. Em comunidades ribeirinhas, terapeutas adaptam o mapa de subsistemas para incluir parentescos extensos, como compadres e padrinhos.
A formação inclui 80 horas de teoria, prática supervisionada e análise própria. No fim, a TEF oferece à família um espelho dinâmico: revela danças ocultas e ensina novos passos para que o lar funcione como palco de apoio mútuo, não de conflito crônico.