A Terapia Baseada em Forças (TBF) no Brasil tem raízes na psicologia comunitária e na necessidade de evidenciar o que já funciona nos territórios, em vez de diagnosticar apenas o que falta. A premissa é simples e poderosa: toda pessoa, família ou comunidade possui repertórios de resistência que podem ser ampliados. Ao longo das sessões, o terapeuta assume postura de “detetive do potencial”, investigando histórias de superação – seja a avó que criou cinco filhos com criatividade, seja o adoles...
O processo inicia com a colheita de forças: o cliente descreve três momentos em que se sentiu orgulhoso. Essas histórias são reorganizadas em categorias como criatividade, coragem, liderança ou resiliência. Documentos visuais – murais com fotos, colagens – ajudam a tornar visíveis recursos que o discurso cotidiano invisibiliza. Pesquisas da Universidade Federal do Ceará mostram que, após oito encontros de TBF em grupo, mulheres em situação de pobreza relataram aumento de 35 % em autoeficácia para gere...
Um diferencial cultural está na ideia de “fortalezas coletivas”. Em quilombos e favelas, os terapeutas utilizam rodas de conversa para mapear redes de apoio: quem empresta gás, quem cuida das crianças, quem promove eventos culturais. Essa abordagem engaja a comunidade, reduz isolamento social e dá sentido prático à frase “juntos somos mais fortes”.
No âmbito clínico, a TBF combina técnicas narrativas e de psicologia positiva: cartas de testemunho, entrevistas de picos e exercícios diários de gratidão. Em casos de depressão, ao invés de focar apenas no humor deprimido, questiona-se: “Quando você, mesmo triste, conseguiu preparar o café da manhã?” – uma exceção que aponta para competência preservada. Esse foco reduz autojulgamento e reforça motivação.
Ética na TBF exige evitar romantização da escassez. Reconhecer forças não significa negar sofrimento ou desigualdade, mas devolver ao sujeito protagonismo sobre mudanças possíveis. O terapeuta valida emoções difíceis e questiona políticas excludentes, ao mesmo tempo em que ilumina trajetórias de êxito subnotificadas.
Ao final, a Terapia Baseada em Forças oferece espelho ampliado: refletem-se qualidades que já existiam e que, quando vistas, se tornam alavanca para novos capítulos da história pessoal.