A Terapia Breve Centrada em Soluções (TBCS) ganhou terreno no Brasil quando serviços públicos precisaram de abordagens rápidas e eficazes para filas crescentes. Ao invés de vasculhar origens do problema, ela pergunta: “O que você espera ver de diferente amanhã?” Essa virada pragmática ressoa com a cultura do improviso criativo brasileira. Durante a sessão, o terapeuta faz perguntas de escala (“Em uma régua de 0 a 10, onde você está em relação à sua meta?”), destaca exceções (“Conte um dia em que o problema quase não apareceu”) e co‑constrói passos mínimos, chamados de micro‑milagres — ações que cabem em até 24 horas.
Em contextos de saúde da família, a TBCS ajuda agentes comunitários a reduzir crises de ansiedade ao pedir que identifiquem um recurso do território, como a vizinha com horta compartilhada, e acionem isso na próxima semana. Pesquisas da Universidade de Brasília (2024) demonstram queda de 30 % em atendimento de emergência psiquiátrica quando a técnica é integrada ao acolhimento inicial. Em escolas, “clubes da solução” orientam alunos a definir metas semanais de convivência; a simples ideia de que “pequenas melhoras contam” diminui suspensões por indisciplina.
Uma característica marcante é a linguagem da esperança concreta. O terapeuta celebra cada 0,5 ponto de avanço na escala como prova de competência interna. Isso nutre o senso de agência e combate a crença fatalista de que “nada muda”. Mesmo em casos de depressão maior, a TBCS direciona o olhar para momentos de alívio — cinco minutos de riso, uma manhã com energia — e pergunta: “O que você fez de diferente para que isso acontecesse?” A resposta vira ingrediente de plano de ação.
Adaptar a TBCS ao Brasil envolve reconhecer diversidade linguística e cultural. Terapeutas indígenas do Xingu traduzem “milagre” para “boa caça do amanhã”, alinhando metáfora à cosmologia local. Já em grandes centros, aplicativos de mensagens enviam lembretes diários “Qual foi sua exceção de hoje?”, mantendo o cliente engajado entre sessões.
A formação recomendada inclui 40 horas de workshop e supervisão ao vivo em casos reais. A ética enfatiza colaboração: o profissional evita conselhos diretos e devolve perguntas que devolvem poder ao cliente. Quando bem aplicada, a TBCS transforma filas de espera em laboratórios de protagonismo, mostrando que uma faísca de mudança pode iluminar caminhos antes invisíveis.