A Terapia de Casal de Abordagem Psicobiológica (PACT) no Brasil ainda soa inovadora, embora seus princípios dialoguem com práticas familiares de autocuidado e reciprocidade. Criada por Stan Tatkin, esta abordagem integra teoria do apego, neurociência afetiva e regulação de excitação fisiológica para ajudar parceiros a construir um relacionamento de “funcionamento seguro”. Isso significa que ambos se percebem como principal base de segurança um do outro – uma espécie de “porto de abrigo bi...
Em sessão, o terapeuta observa microexpressões, movimentos oculares e postura corporal para decodificar padrões de aproximação ou fuga. Por exemplo, um sutil afastar de ombros quando o outro se aproxima pode sinalizar memória implícita de invasão. Ao tornar esse gesto consciente, o casal ganha escolha: repetir o reflexo defensivo ou ensaiar uma nova resposta, como verbalizar o desconforto. Técnicas de “lining up” colocam parceiros frente a frente, joelhos tocando, para facilitar leitura facial e cria...
A PACT enfatiza a janela de tolerância. Se um parceiro dispara em hiperexcitação (taquicardia, voz aguda), o outro aprende a oferecer co‑regulação: contato visual suave, respiração sincronizada, humor empático. Essa dança ajuda o sistema nervoso autônomo a retornar à zona de engajamento social, onde diálogo é possível. Pesquisas da Universidade de Brasília relataram queda de 40 % em conflitos recorrentes após dez encontros, medidos por escalas de satisfação conjugal.
Culturalmente, terapeutas brasileiros adaptam exercícios. Casais de comunidades ribeirinhas usaram contação de histórias indígenas para ilustrar valores de interdependência; em grandes centros, pares poliamorosos ajustam o conceito de “aliança primária” para múltiplas conexões, mantendo, porém, o critério de transparência emocional.
A formação recomendada inclui curso intensivo de 60 horas e supervisão ao vivo, pois o profissional deve reagir em tempo real a sinais somáticos. Ainda faltam estudos longitudinais no país, mas relatos clínicos sugerem que o foco neurobiológico cativa parceiros que se frustraram em abordagens tradicionais, nas quais sentiam‑se presos em debates conceituais sem mudança visceral.