A Terapia de Exposição Prolongada (TEP) é considerada no Brasil um dos protocolos mais consistentes para o tratamento de transtorno de estresse pós‑traumático (TEPT) decorrente de assaltos, acidentes ou violência doméstica. A lógica é contraintuitiva: enfrentar de forma sistemática aquilo que se evita. Quando a pessoa revive o evento traumático apenas em flashes desorganizados, o cérebro registra perigo constante; já quando revive em ambiente seguro e estruturado, aprende a diferenciar passado de presente.
O processo inicia com psicoeducação. O terapeuta explica como o TEPT altera o circuito amígdala‑hipocampo, gerando hiper‑vigilância e narração fragmentada. Em seguida, constrói‑se uma hierarquia de situações temidas: ouvir determinada música, passar pela rua do acidente ou simplesmente fechar os olhos. Cada item é ranqueado de 0 a 100 em desconforto subjetivo (SUDS). A partir da terceira sessão, a TEP alterna duas modalidades de exposição.
Exposição in vivo convida o cliente a realizar tarefas na vida real. Por exemplo, um sobrevivente de assalto a mão armada pode começar dirigindo por um bairro semelhante antes de retornar ao local exato do trauma. O terapeuta fornece roteiros de respiração diafragmática e técnicas de grounding para manejo de picos de ansiedade. Já a exposição imaginária ocorre em consultório: a pessoa fecha os olhos e descreve em primeira pessoa cada detalhe da lembrança, no tempo presente, por cerca de 40 minutos. A gravação é levada para casa e ouvida diariamente, intensificando a habituação.
Pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte mostram que 12 sessões de TEP reduziram em 55 % os escores de TEPT na Escala CAPS‑5, com ganhos mantidos após seis meses. Elemento crítico foi o processing pós‑exposição: o terapeuta questiona interpretações distorcidas (“Eu deveria ter impedido”), incentivando reestruturação cognitiva focada em responsabilidade realista.
A adesão exige preparação. Entre os mitos frequentes está o medo de “retraumatizar”. Estudos controlados indicam que, quando conduzida por profissional treinado, a TEP apresenta baixo índice de eventos adversos graves. Ainda assim, contraindicações relativas incluem instabilidade dissociativa severa ou ideação suicida ativa, que demandam estabilização prévia. Em muitos casos, combina‑se TEP a farmacoterapia ou técnicas de regulação de afeto, como movimento ocular (EMDR) ou mindfulness.
No Brasil, a formação recomendada abrange curso de 40 horas teóricas e 20 horas de supervisão. Profissionais devem dominar técnicas de avaliação de risco, gravação de sessões e uso de escalas de progresso. Para o paciente, o maior desafio costuma ser o dever de casa: ouvir a gravação diariamente, mesmo quando o impulso inicial é fugir. Mas quem persiste relata que a lembrança perde potência, como se o cérebro finalmente arquivasse o capítulo traumático sem apagar a memória, permitindo que outras histórias voltem a ocupar o palco da consciência.