A ludoterapia, como é conhecida a play therapy no Brasil, combina o potencial transformador do brincar com técnicas psicoterapêuticas contemporâneas. Diferente de uma mera atividade recreativa, ela constitui um espaço clínico estruturado onde crianças de três a doze anos podem externalizar conflitos internos por meio de simbolizações. O cenário é preparado com cuidado: caixas de areia, figuras de animais, fantoches, massinhas e materiais de arte estão dispostos para que a criança escolha a...
No contexto brasileiro, a ludoterapia ganhou força nos ambulatórios de saúde pública a partir dos anos 1990, quando políticas de atenção psicossocial passaram a incluir abordagens não farmacológicas. Pesquisas da Universidade Federal da Bahia mostram que sessões semanais durante três meses reduziram comportamentos de oposição em 65 % dos casos analisados. Além disso, programas de extensão universitária capacitam professores a inserir princípios de ludoterapia na rotina escolar, ajudando alunos a ...
Uma sessão típica dura quarenta a cinquenta minutos. No início, o terapeuta observa a criança explorar o ambiente, identificando brinquedos ‘favoritos’ que funcionam como metáforas de temas centrais. Por exemplo, escolher repetidamente um dinossauro pode simbolizar força ou medo. O profissional utiliza intervenções sutis: espelha falas, descreve ações, introduz perguntas lúdicas. Essa postura não diretiva respeita o ritmo infantil, incentivando autonomia e criatividade.
Os pais, por sua vez, são peças-chave. Eles participam de entrevistas semanais de devolutiva, aprendendo a reforçar comportamentos positivos em casa. Ferramentas como a ‘caixa das emoções’, que contém cartões coloridos para nomear sentimentos, permitem estender o tratamento para além do consultório. Em comunidades ribeirinhas da Amazônia, terapeutas adaptam materiais usando sementes, argila e mitos locais, demonstrando a flexibilidade cultural da abordagem.
A ludoterapia também encontra aplicação em contextos médicos. Hospitais pediátricos utilizam salas de brinquedo terapêutico para crianças em quimioterapia. Estudos do Instituto Nacional de Câncer apontam queda nos índices de dor subjetiva quando histórias de aventura são encenadas com fantoches antes dos procedimentos. Essas práticas evitam que o hospital seja percebido como espaço exclusivamente doloroso, cultivando resiliência.
É fundamental esclarecer que a ludoterapia não é solução mágica. Ela exige planejamento individualizado, avaliação contínua e, muitas vezes, trabalho integrado com psiquiatras, pedagogos e assistentes sociais. Quando bem conduzida, porém, transforma o brincar em ponte entre fantasia e realidade, oferecendo à criança recursos internos para enfrentar perdas, mudanças e frustrações com maior segurança emocional.