A Terapia de Interação entre Pais e Filhos, conhecida no Brasil como PCIT, vem ganhando espaço em serviços de saúde infantil por oferecer um roteiro claro de reconstrução do vínculo familiar. A essência da abordagem é simples: fortalecer a relação afetuosa para que a disciplina se torne cooperativa, não punitiva. Durante a primeira etapa — Interação Dirigida pela Criança — o terapeuta observa o brincar livre, enquanto treina os pais a adotarem a tríade “elogiar‑descrever‑imitar”. Esses microgestos marcam o cérebro infantil com sinais de segurança, diminuindo a produção de cortisol e abrindo janela para a aprendizagem social.
No segundo estágio — Interação Dirigida pelos Pais — as famílias praticam comandos eficazes e consequências previsíveis. Ao invés de frases vagas como “Comporte‑se”, o adulto aprende a formular pedidos específicos: “Por favor, guarde os blocos na caixa azul”. Caso a criança resista, aplica‑se uma sequência de contagem e tempo‑fora estruturado, sempre acompanhada de reafirmações positivas quando a cooperação surge. Pesquisas da Universidade de São Paulo indicam que, após doze sessões, 78 % dos participantes relatam queda significativa em crises de agressividade e melhora na autoestima parental.
Um diferencial do PCIT é o uso de espelhos unidirecionais e sistemas de áudio, permitindo que o terapeuta oriente em tempo real sem interferir diretamente na interação. Esse formato preserva a autoridade do cuidador, pois a criança percebe que é o próprio pai ou mãe quem conduz a situação. Paralelamente, os adultos recebem psicoeducação sobre desenvolvimento infantil: fases de autonomia, limites cognitivos e estratégias de regulação emocional.
Apesar de sua origem norte‑americana, o modelo foi adaptado à realidade brasileira. Clínicas comunitárias em Recife, por exemplo, incorporam cantigas de roda durante a fase de aproximação para respeitar o contexto cultural. Já em Manaus, terapeutas utilizam histórias indígenas para ilustrar a importância da escuta ativa. Essas adaptações demonstram que o protocolo é flexível, desde que mantenha os princípios de consistência e reforço positivo.
Antes de iniciar, recomenda‑se avaliação multidisciplinar para descartar condições como transtorno do espectro autista ou depressão parental grave, que podem exigir intervenções complementares. Quando bem implementado, o PCIT transforma o lar em ambiente de treino diário, onde cada interação vira oportunidade de crescimento mútuo. Pais relatam que, ao final do processo, não ganham apenas um manual de disciplina, mas uma nova linguagem de afeto capaz de sustentar o relacionamento conforme a criança avança para a pré‑adolescência.