O neurofeedback, chamado no Brasil de treinamento de autorregulação neural, combina tecnologia de eletroencefalografia (EEG) com técnicas de psicoterapia para ensinar o cérebro a funcionar de forma mais equilibrada. Em vez de aplicar impulsos elétricos ou medicamentos, o terapeuta coloca sensores no couro cabeludo que captam microvoltagens relacionadas aos ritmos cerebrais — alfa, beta, theta e gama. Esses dados são convertidos em imagens ou sons que mudam em tempo real: quando o cliente produz um padrão desejável (por exemplo, maior proporção de ondas alfa em repouso), o software recompensador exibe animações fluidas ou uma trilha sonora agradável. Caso o padrão se desorganize, a imagem ‘trava’ ou o som se distorce levemente. Em poucas sessões, o sistema nervoso aprende a buscar espontaneamente os estados que geram feedback positivo.
No contexto clínico brasileiro, o neurofeedback ganhou popularidade entre psicólogos e fisioterapeutas que tratam TDAH, insônia, dor crônica e ansiedade de performance. Estudos da Universidade Federal de São Paulo relatam melhorias sustentadas em atenção seletiva após 20 encontros de 30 minutos, sobretudo em crianças que apresentavam baixa resposta aos psicoestimulantes tradicionais. Outro campo promissor envolve atletas de alto rendimento: treinadores utilizam protocolos de pico de frequência alfa para reduzir o tempo de reação em esportes como tiro com arco e futebol.
Uma sessão típica começa com uma etapa de calibragem, em que o profissional ajusta filtros para evitar artefatos (piscar de olhos ou movimentos musculares). Em seguida, seleciona‑se um alvo de treino, como aumentar coerência frontal‑parietal. O cliente acompanha sua própria ‘pontuação’ na tela, tornando o treinamento motivador. Essa gamificação explica por que muitas pessoas sentem engajamento maior do que no biofeedback periférico convencional (temperatura da pele ou batimentos cardíacos).
Embora o equipamento seja sofisticado, o fator humano continua central: o terapeuta interpreta métricas, ajusta parâmetros e oferece psicoeducação sobre higiene do sono, respiração diafragmática e pausas cognitivas. Dessa forma, consolida‑se a aprendizagem fora do consultório. É fundamental verificar a formação do profissional — no Brasil, cursos reconhecidos pela Sociedade Brasileira de Neuropsicologia oferecem módulos de certificação em até 120 horas teóricas e práticas.
O neurofeedback não é mágica instantânea; requer tempo e compromisso semelhante a aprender um instrumento musical. Porém, para quem persiste, os ganhos podem incluir menor reatividade emocional, maior clareza mental e sensação de autocontrole corporal. Em última análise, trata‑se de transformar o cérebro em seu próprio treinador, substituindo a lógica de ‘corrigir defeitos’ pela de ‘potencializar recursos’.