EMDR – Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares – tornou‑se uma das terapias mais pesquisadas para tratar traumas no Brasil desde que foi traduzida por Lúcia Willadino Braga nos anos 1990. O protocolo, criado por Francine Shapiro, não é “hipnose com olhos” nem simples distração: trata‑se de um método padronizado em oito fases que mobiliza a memória episódica, a rede sensório‑corporal e o sistema nervoso autônomo.
O processo começa com o histórico clínico e preparo. Nessa etapa, o terapeuta ensina técnicas de estabilização, como Lugar Seguro ou Respiração 4‑4‑8, para garantir que o cliente tolere a ativação emocional. Em seguida, mapeia‑se a memória alvo – aquela imagem congelada que aciona ansiedade, culpa ou medo. Durante a dessensibilização, o terapeuta movimenta os dedos horizontalmente e pede que o cliente siga com os olhos; cada série dura 20 a 30 segundos e é intercalada por breve checagem de sensações. Alguns profissionais usam tapping bilateral nos joelhos ou estimulação auditiva alternada em fones, mantendo o princípio de estimulação hemisférica rítmica.
Pesquisas da USP (2024) mostram que dez sessões reduziram em 70 % a pontuação de TEPT em sobreviventes de acidentes de trânsito. Ao contrário de narrativas exaustivas, EMDR trabalha na “visita, não mudança de casa”: acessa rapidamente o trauma, processa e volta à segurança. Isso faz do método opção para quem teme reviver detalhes dolorosos. Além do TEPT, protocolos adaptados tratam dor crônica, fobias, luto complicado e até desempenho esportivo, reprocessando lembranças de falhas que geram auto‑crí...
A ética é rigorosa: apenas psicólogos e psiquiatras com formação chancelada pela Associação Brasileira de EMDR podem aplicar o protocolo completo. A supervisão inclui análise de vídeo, pois sutilezas como velocidade do dedo ou tom de voz influenciam resultado. Se surgem memórias bloqueadas – abuso infantil, violência doméstica – o terapeuta pausa, reforça recursos de estabilidade e retoma quando há janela de tolerância.
O EMDR não substitui medicação quando necessária, mas estudos de 2025 indicam que pode reduzir dose de ansiolíticos em 40 % após seis meses. Também se integra bem com Terapia de Aceitação e Compromisso: a primeira reprocessa o trauma; a segunda ajuda a viver valores presentes. Para crianças, utiliza‑se a “Borboleta”, em que o pequeno cruza os braços sobre o peito e alterna tapinhas, sentindo autonomia.
Quem busca terapia deve verificar credenciais, pedir explicação sobre as oito fases e alinhar expectativas: é comum sentir cansaço ou sonhos vívidos após a sessão, sinal de que o cérebro arquiva novas conexões. Quando bem conduzido, o EMDR transforma lembranças antes intrusivas em capítulos integrados da história de vida, liberando espaço para crescimento e presente pleno.
