A Terapia Comportamental Dialética (DBT – Dialectical Behavior Therapy) chegou ao Brasil inicialmente para o tratamento do transtorno de personalidade borderline, mas logo se expandiu para contextos como dependência química, transtornos alimentares e automutilação na adolescência. A proposta de Marsha Linehan — equilibrar aceitação e mudança — conversa bem com a cultura brasileira, onde convivem valores de coletividade e desejo de autonomia. Na prática, o terapeuta ensina quatro grandes conjuntos de habilidades: Mindfulness, Tolerância ao Estresse, Regulação Emocional e Efetividade Interpessoal. Cada módulo é vivenciado em grupos de treinamento semanal de 2 horas, enquanto a terapia individual foca em aplicar essas habilidades em situações de alta intensidade emocional.
Um diferencial da DBT é o phone coaching: breves ligações ou mensagens, geralmente de 5 a 10 minutos, que ajudam o cliente a usar as técnicas no calor da crise — evitar um corte, não enviar aquela mensagem impulsiva ou respirar antes de uma discussão familiar. Para tornar o processo viável no Brasil, muitos serviços utilizam aplicativos de mensagem criptografados e combinam horários que respeitam a jornada de trabalho do terapeuta. Pesquisas da UFRGS (2023) mostraram que o uso estruturado desse recurso reduziu em 45 % as idas a pronto‑socorro por comportamento suicida em seis meses.
A terapia é organizada em alvos hierárquicos. Primeiro, comportamentos de vida ou morte (suicídio, overdose); depois, comportamentos que comprometem a terapia (faltas, mentiras); em seguida, qualidade de vida (emprego, relacionamentos). Só então se aborda trauma passado com técnicas de exposição. Essa priorização evita que temas complexos drenem energia antes de estabilizar o básico. O “diário de registro” (diary card) quantifica impulsos e emoções de 0 a 5 e guia a sessão, tornando o encontro altamente focado.
Mindfulness na DBT não é genérico: inclui exercícios como “Observar”, “Descrever” e “Participar” em atividades do cotidiano — sentir a espuma do sabonete nas mãos, notar sons do trânsito sem rotular bons ou ruins. A Regulação Emocional ensina que raiva ou medo não precisam ser eliminados, mas administrados, utilizando ação oposta e acumulação de emoções positivas. Já a Tolerância ao Estresse apresenta o acrônimo ACCEPTS (Atividades, Contribuir, Comparar‑se, Emoções opostas, Pensamentos, Sensações) adaptado em português para FACES‑TS (Fazer algo, Ajudar alguém, Comparar‑se com outros, Emoção diferente, Conduzir pensamentos, Trabalho corporal, Sentidos).
No Brasil, a formação em DBT completa exige cerca de 80 horas de curso intensivo e 12 meses de supervisão em equipe de consulta. Essa equipe é fundamental: terapeutas se encontram semanalmente para praticar princípios dialéticos, discutir casos e evitar burnout. Estudo de 2024 da USP mostrou que profissionais que participam de equipe de consulta mantêm níveis mais altos de adesão ao protocolo e relatam menor fadiga por compaixão.
Embora a DBT seja estruturada, há espaço para criatividade cultural: usar músicas de bossa nova para ensaiar ritmo respiratório, incorporar humor na dramatização de cenários ou criar cartões coloridos com habilidades rápidas de lembrar. Quando o cliente internaliza o balanço entre aceitação compassiva e mudança efetiva, a DBT deixa de ser um conjunto de técnicas e vira uma filosofia de vida que sustenta escolhas saudáveis a longo prazo.