
Pessoas trans são aquelas cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo designado ao nascer. Este guarda-chuva inclui identidades como transexual, não binário, gênero‑fluido, travesti e outras expressões que extrapolam o binário homem‑mulher. A experiência trans é diversa: enquanto alguns escolhem transicionar social, legal e/ou medicamente, outros encontram conforto em expressões híbridas ou flutuantes.
Desafios psicossociais: a incongruência de gênero em si não causa sofrimento; o que gera sofrimento é a disforia de gênero combinada com estigma, violência e barreiras institucionais. No Brasil, dados do Dossiê Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais (ANTRA, 2024) revelam que o país segue liderando índices de homicídios de pessoas trans. Escolarização interrompida por bullying, rejeição familiar, desemprego e negação de atendimento em saúde criam ciclo de vulnerabilidade que impacta autoestima e saúde mental.
Transição pode envolver mudanças no nome e gênero em documentos, modificação da aparência (vestuário, cabelo), terapia hormonal e, em alguns casos, cirurgias de afirmação de gênero. Cada etapa requer informação, consentimento livre e apoio multidisciplinar. O SUS brasileiro garante o Processo Transexualizador desde 2008, mas filas de espera superam três anos em muitos estados, gerando angústia prolongada.
Saúde mental afirmativa:
- Psicoeducação para despatologizar identidades trans e explicar opções de cuidado.
- Terapia afirmativa de gênero — espaço seguro para explorar identidade, lidar com minoritização e fortalecer resiliência.
- Tratamento de comorbidades (depressão, ansiedade, TEPT por traumas transfóbicos) com abordagem culturalmente sensível.
- Promoção de rede de apoio – grupos de pares, familiares e aliados reduzem isolamento.
- Estratégias de coping – mindfulness, arte, ativismo comunitário, que validam a experiência trans.
Aspectos médicos: a terapia hormonal feminilizante ou masculinizante requer avaliação endócrina e acompanhamento regular de hemograma, perfil lipídico e função hepática. Diretrizes da WPATH (Versão 8, 2022) recomendam individualizar doses para minimizar riscos cardiovasculares. Cirurgias (mastectomia masculinizante, vaginoplastia, metoidioplastia) exigem equipe experiente e pós‑operatório cuidadoso.
Direito e cidadania: desde 2018, o STF reconhece a autodeclaração para retificação de nome e gênero em cartório, sem laudo médico ou decisão judicial. Contudo, a implementação varia entre estados, e pessoas não binárias ainda lutam por reconhecimento legal.
Interseccionalidade: pessoas trans negras, indígenas ou com deficiência enfrentam camadas adicionais de opressão. Políticas públicas precisam contemplar recortes de raça, classe e território para serem efetivas.
Boas práticas para profissionais: usar nome e pronomes corretos, oferecer banheiros neutros, formular prontuários inclusivos, capacitar equipe sobre diversidade de gênero e encaminhar para serviços especializados quando necessário.
Mensagem final: ser trans é uma parte legítima da diversidade humana. Com acesso a cuidados afirmativos, suporte social e políticas de inclusão, pessoas trans podem florescer em seus projetos acadêmicos, profissionais e afetivos, contribuindo para sociedades mais justas e criativas.