
Psicose é um estado em que a capacidade de distinguir entre experiências internas e realidade objetiva fica comprometida, levando a interpretações distorcidas do ambiente, das pessoas e de si mesmo. Sintomas centrais incluem alucinações (percepções sem estímulo externo, como ouvir vozes), delírios (crenças rígidas e incorretas, por exemplo, sentir‑se perseguido), pensamento desorganizado, fala incoerente, movimentos ou expressão emocional atípicos e rebaixamento do insight. Um episódio psicótico pode surgir de forma aguda ou evoluir gradualmente, afetando desempenho escolar, trabalho, autocuidado e relações sociais.
Causas multifatoriais Neurobiologia, predisposição genética e fatores ambientais interagem para precipitar psicose. Desequilíbrios na dopamina, glutamato e GABA alteram circuitos cortico‑estriatais; estressores como uso de cannabis de alta potência, privação de sono, migração e discriminação podem ser gatilhos. Doenças médicas (lúpus, encefalite, hipertiroidismo) e efeitos de fármacos também figuram entre as causas orgânicas. A psicose pós‑parto é uma emergência obstétrica rara porém grave, exigindo intervenção imediata.
Curso clínico O primeiro episódio psicótico costuma aparecer no final da adolescência ou início da vida adulta, precedido por fase prodrômica de retraimento social, queda na motivação e percepção sensorial alterada. Sem tratamento, há risco de cronificação, déficits cognitivos e maior vulnerabilidade a atos autolesivos.
Diagnóstico requer avaliação psiquiátrica completa: entrevista clínica, exame do estado mental, histórico familiar e exame físico para excluir causas clínicas. Exames laboratoriais e neuroimagem auxiliam a descartar alterações metabólicas ou neurológicas.
Intervenções baseadas em evidências:
- Antipsicóticos de primeira ou segunda geração: reduzem sintomas positivos, devendo‑se ajustar dose para minimizar efeitos extrapiramidais e metabólicos.
- Terapia Cognitivo‑Comportamental para psicose: ajuda a questionar interpretações delirantes, melhorar adesão e lidar com estigma.
- Treinamento de habilidades sociais e reabilitação cognitiva: restauram funcionamento ocupacional.
- Apoio familiar, psicoeducação e intervenções de redução de estresse (mindfulness, exercício regular).
- Tratamento assertivo comunitário e equipes multiprofissionais para casos de risco elevado de recaída.
Prevenção secundária A intervenção precoce (Early Intervention in Psychosis – EIP) nos primeiros três anos (“critical period”) reduz hospitalizações, melhora cognição social e eleva chances de remissão duradoura. Programas EIP combinam farmacoterapia de baixa dose, psicoterapia individual, coaching vocacional e suporte familiar intensivo.
Perspectiva de recuperação Cerca de um terço dos pacientes atinge remissão completa, outro terço apresenta episódios intermitentes e o último terço mantém sintomas residuais. Fatores prognósticos favoráveis: início rápido do tratamento, bom suporte social, adesão medicamentosa, ausência de abuso de substâncias e envolvimento em atividades significativas.
Mensagem final A psicose não define a essência da pessoa. Com diagnóstico tempestivo, abordagem bio‑psico‑social e rede de apoio livre de estigma, é possível retomar metas acadêmicas, vínculos afetivos e qualidade de vida plena.