
Infidelidade — seja em forma de relação sexual extraconjugal, romance virtual ou vínculo emocional secreto — é percebida como quebra de contrato afetivo. No Brasil, pesquisas indicam que até 30 % dos casais já enfrentaram algum episódio de infidelidade. O impacto vai além da descoberta do ato: o sentimento de traição envolve perda de segurança, abalo de identidade (“não sou suficiente?”) e questionamento de valores individuais e coletivos sobre monogamia.
Tipos de infidelidade incluem:
Sexual — contato físico sem envolvimento emocional;
Emocional — troca de intimidade e exclusividade em chats ou redes sociais;
Virtual — consumo de conteúdo erótico personalizado ou sexting sem o parceiro saber;
Financeira — ocultar gastos significativos com terceiros; e
Microtraições — flertes ambíguos, likes excessivos que mantêm “porta aberta”.
Causas multifatoriais: insatisfação não comunicada, busca de validação, vingança, oportunidade (viagens de trabalho), scripts culturais que associam virilidade ao número de conquistas, ou ainda compulsão sexual. Porém, 40 % dos infiéis relatam “não buscar nada sério”, mostrando que nem sempre há desejo de terminar o relacionamento original.
Consequências psicológicas: a parte traída pode desenvolver sintomas de TEPT relacional — flashbacks do parceiro com outra pessoa, hipervigilância de mensagens e lugares. O traidor, por sua vez, enfrenta culpa, medo de julgamento e dissonância cognitiva (“amo meu cônjuge, mas agi contra meus valores”). Filhos percebem tensão e podem internalizar modelos de confiança fragilizados.
Caminhos de reparação:
- Divulgação transparente — responder perguntas factuais sem detalhes que causem revitimização.
- Responsabilização — o traidor deve assumir escolha, evitando culpar “carência” ou “álcool”.
- Período de segurança — cortar contato com pessoa envolvida, trocar senhas conjuntas se necessário.
- Terapia de casal baseada em Emotionally Focused Therapy ou Gottman para restabelecer conexão.
- Gestão de gatilhos — acordar sinais (frio na barriga, afastamento emocional) para intervir antes de recaídas.
Aspectos culturais e jurídicos: embora adultério não seja mais crime no Código Penal, ainda influencia processos de divórcio litigioso e pensão alimentícia em algumas decisões. Normas religiosas podem exigir confissão pública ou mediação espiritual.
Autocuidado individual: meditação, suporte de amigos e atividades que reforcem identidade própria diminuem fusão ao trauma. Para o infrator, terapia individual explora padrões que levaram ao ato e previne repetição.
Tecnologia: aplicativos de localização e espiões de celular prometem “prova” de traição, mas aumentam vigilância tóxica. Especialistas recomendam reconstruir confiança por meio de coerência de ações e tempo, não monitoramento constante.
Prevenção: estabelecer limites claros sobre redes sociais, amizades, pornografia e finanças; manter diálogo sobre desejo e fantasias; buscar terapia preventiva quando há queda de intimidade.
Em última análise, infidelidade não determina o fim; determina uma encruzilhada. Casal pode escolher reconstruir vínculo com transparência e esforço mútuo ou redirecionar vidas separadamente de forma respeitosa. Seja qual for o caminho, suporte profissional facilita luto, aprendizado e crescimento pós‑crise.