
Jogo patológico, também chamado de transtorno do jogo, ocorre quando a prática de apostas deixa de ser lazer e passa a dominar pensamentos, emoções e comportamentos. A pessoa continua jogando mesmo depois de perder economias, arruinar relacionamentos ou acumular dívidas. No Brasil, onde loterias, bingos clandestinos e apostas esportivas online estão amplamente disponíveis, estima‑se que cerca de 2 % da população apresente critérios para jogo patológico, mas outros 6 % já vivem algum grau de jogo problemático.
Os sintomas centrais incluem: necessidade de apostar quantias cada vez maiores para sentir excitação, irritação ao tentar reduzir ou parar, mentiras para encobrir perdas, e uso do jogo para aliviar culpa ou ansiedade. Crises de “recuperar prejuízo” levam o indivíduo a arriscar tudo numa tentativa desesperada de zerar a dívida, aprofundando o buraco financeiro. Estudos de neuroimagem mostram ativação intensa do sistema de recompensa (núcleo accumbens) e redução do controle inibitório pelo córtex pré‑frontal — padrão semelhante ao observado em dependência de substâncias.
No plano social, o impacto é devastador: contas atrasadas, venda de bens, empréstimos com juros abusivos, conflitos conjugais e negligência parental. A vergonha dificulta buscar ajuda; muitas famílias só descobrem quando bancos bloqueiam cartões ou chegam cobranças judiciais. A saúde mental também sofre: depressão, ansiedade generalizada e risco aumentado de ideação suicida. Do ponto de vista físico, noites em claro e picos de adrenalina favorecem hipertensão, gastrite e abuso de álcool ou estimulantes para manter‑se alerta em cassinos online.
Tratamento baseado em evidências:
- Terapia Cognitivo‑Comportamental – identifica distorções (“o próximo giro vai pagar tudo”) e ensina técnicas de adiamento de aposta.
- Entrevista Motivacional – aumenta a consciência de perdas e fortalece a autoeficácia.
- Jogadores Anônimos – programa de 12 passos que oferece rede de apoio e patrocínio.
- Farmacoterapia – inibidores de recaptação de serotonina ou estabilizadores de humor reduzem impulsividade; naltrexona mostra bons resultados em craving.
- Intervenção familiar sistêmica – aborda co‑dependência financeira e comunica limites claros sobre empréstimos.
Ferramentas digitais, como apps de bloqueio de sites de apostas, autoexclusão em plataformas e notificações de tempo de jogo, complementam o tratamento. Bancos podem programar cartões para recusar transações em casas de apostas.
Prevenção exige políticas públicas: campanhas que explicam probabilidades reais, limites de publicidade, identificação facial para barrar menores, e programas de educação financeira nas escolas. Empresas de apostas devem disponibilizar limites predefinidos e análise de comportamento de risco, alertando jogadores sobre padrões nocivos.
Se você percebe que o jogo deixou de ser diversão e passou a ocupar seus pensamentos, dominar seu orçamento ou ameaçar sua família, procure ajuda. Recuperação é possível com diagnóstico precoce, estratégias de controle de impulso e suporte social consistente. Cada dia longe das apostas é um passo rumo à estabilidade financeira e emocional.