Para de entregar sua alma a quem só coleciona pessoas.

Blog | Depressão

Quando voltei para mim, minha travessia no deserto e meu reencontro com quem sou...

Houve um dia em que percebi que estava vivendo longe de mim, não fisicamente, mas naquele lugar sutil onde a alma mora. Eu era como aquele Pequeno Príncipe perdido entre planetas que não entendiam seu coração, visitava ideias que não eram minhas, expectativas que não me pertenciam, papéis que não me cabiam.

E como ele, eu também me perguntava em silêncio: De que adianta conquistar mundos, se eu me esqueço do meu?

Foi então que a vida me levou para o deserto, não um deserto de areia, mas aquele que aparece dentro do peito quando a gente se perde, quando deixamos de nos perceber, um vazio silencioso onde tudo à volta parece grande demais e nós parecemos pequenos demais.

Ali não havia vozes, não havia aplausos, não havia papéis para interpretar, só eu, a vastidão, e a pergunta mais difícil que alguém pode fazer a si mesmo:

Quem sou eu quando ninguém está olhando?

No começo, tive medo, todo mundo teme o deserto, todo mundo teme a mente vazia, é nele que a ilusão evapora e a verdade aparece sem maquiagem, e a verdade, às vezes, dói antes de curar.

Caminhei dias, meses, e pra falar a verde anos, dentro de mim, senti sede de paz, fome de sentido, saudade de mim mesmo, e aos poucos entendi que eu passara tempo demais tentando ser útil ao mundo, quando tudo que meu coração queria era ser verdadeiro.

Foi nesse deserto que encontrei minha rosa, não aquela rosa que o mundo vê, mas aquela que só meus olhos podem cuidar, frágil, delicada, cheia de espinhos que falavam mais de medo do que de maldade, por muito tempo eu a ignorei, achando que cuidar de mim era egoísmo, hoje sei que cuidar da minha rosa é ato de amor ao universo inteiro e principalmente ao Deus, o Supremo Arquiteto de Tudo.

Afinal, o mundo se transforma quando uma alma volta para casa, e a casa de minha alma, é minha própria alma se reconhecendo, como quem sou e o que sou, aprendi que não posso regar jardins alheios se deixo o meu morrer de sede, aprendi que as estrelas brilham diferente quando sabemos quem somos, aprendi que a verdadeira viagem nunca foi pelos lugares, mas pelo coração, e compreendi que só encontra o essencial quem se permite estar sozinho consigo mesmo.

Hoje não busco mais caber, busco existir, busco ser fiel ao que sinto, ao que sonho, ao que ainda estou aprendendo a ser. Eu sigo caminhando, às vezes forte, às vezes cansado, mas sempre com minha rosa nas mãos e meu deserto no peito e quando a noite chega, olho para o céu e sorrio. Porque sei que, assim como o Pequeno Príncipe, não estou perdido.

Estou voltando.

Voltar para mim foi minha maior viagem.

E a partir desse reencontro, descobri que nenhuma riqueza no mundo vale mais que a paz de reconhecer a própria alma, hoje cuido de mim com a mesma delicadeza com que se cuida de um planeta pequeno, mas cheio de vida, hoje sei que quem aprende a amar sua própria rosa jamais se sente só no deserto, porque dentro de si carrega um jardim.

E se eu pudesse lhe dizer algo, seria isso:

Não tenha medo do seu deserto.

É nele que a alma encontra água.

É nele que o coração aprende a ouvir.

É nele que descobrimos que sempre fomos suficientes.

E que, às vezes, para encontrar o essencial, tudo o que precisamos é nos reencontrar.

Sejas sempre você !!!

Com Carinho, Carolos Rondini, em 11/2025.