Sexualidade e Saúde Mental: o lugar da Sexologia na Psicologia Contemporânea

Artigo | Sexo, sexualidade

A sexualidade não é apenas uma dimensão biológica, mas um campo atravessado por cultura, história, gênero, afetividade e subjetividade. A sexologia, enquanto ciência multidisciplinar, busca compreender e intervir nesse território complexo, que vai muito além da genitalidade.

Hoje, os consultórios recebem cada vez mais demandas relacionadas a disfunções sexuais, identidade de gênero, orientação sexual e impactos da pornografia digital. A aceleração tecnológica e a hiperconectividade intensificaram paradoxos: nunca se falou tanto de sexo, e nunca tantas pessoas relataram dificuldades em vivenciá-lo de forma saudável e satisfatória.

Do ponto de vista clínico, alguns fenômenos emergentes chamam atenção:

  • Anorgasmia e disfunção erétil psicogênica em populações jovens, muitas vezes relacionadas ao consumo excessivo de pornografia;
  • Ansiedade de desempenho, fortemente vinculada a padrões de corpo e performance propagados pela mídia;
  • Questões de identidade de gênero e orientação sexual, que ainda encontram resistência social, gerando sofrimento psíquico e isolamento;
  • Variações do desejo sexual (hipo e hiperdesejo), que desafiam os modelos normativos tradicionais.

A sexologia clínica, integrada à psicologia, exige uma postura afirmativa e não patologizante, capaz de:

  • Desconstruir mitos culturais que reforçam vergonha e silenciamento;
  • Escutar a singularidade da experiência, sem enquadrar o sujeito em normas rígidas;
  • Articular o corpo, o psíquico e o relacional, compreendendo que a sexualidade é vivida em múltiplos planos;
  • Reconhecer os impactos sociais e políticos, já que preconceito, discriminação e violência de gênero afetam diretamente a saúde mental.

Pesquisas recentes (APA, 2023; WHO, 2022) apontam que a vivência plena da sexualidade é um fator de proteção para a saúde mental. Por outro lado, contextos de repressão, invisibilidade ou discriminação estão fortemente associados a quadros de ansiedade, depressão e ideação suicida.

Em síntese, pensar sexualidade na psicologia contemporânea não é opcional, mas essencial. A sexologia, como campo de saber, amplia a escuta clínica e oferece ferramentas para compreender como o desejo, o corpo e a identidade se constituem no encontro entre o íntimo e o social.

Afinal, falar de sexualidade é falar de liberdade, reconhecimento e saúde integral.

Referências

  • World Health Organization (2022). Technical brief on sexual and reproductive health and rights.
  • American Psychological Association (2023). Sexuality and Gender Guidelines.
  • Pfaus, J. (2021). The Science of Sexual Desire.